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CAMINHOS DE BARRO
Em Maragogipinho, técnicas de cerâmica passam de pais para filhos
"Cada peça é um pouco da gente"
DO ENVIADO ESPECIAL A MARAGOGIPINHO (BA)
"Painho, assim tá bom?", pergunta o menino Rodrigo Mota,
12, que, com as mãos sujas de
barro, finaliza uma galinha arrepiada. "Bote um [pedaço] menor", responde o pai, enquanto
trabalha no torno, fazendo caxixis (utensílios em tamanho reduzido feitos para crianças).
A conversa aconteceu na olaria de Reinaldo Mota, 44, o Penso, que produz peças em cerâmica com a ajuda da mulher e
dos três filhos. "Comecei aos 10
anos. Meu pai me deu as dicas",
lembra o artesão.
A olaria de Penso é apenas
uma das cerca de 70 existentes
em Maragogipinho, no Recôncavo Baiano, comunidade considerada o maior centro de cerâmica da América Latina.
No vilarejo, cercado pelo
manguezal às margens do rio
Jaguaripe, todos tiram seu sustento do artesanato, afirma a associação local de oleiros. Seja no
tratamento da matéria-prima,
na produção ou na pintura das
peças, há mais de um século, as
técnicas são herança de família.
Amassador de barro, Jaimilson dos Santos Souza, 17, conta
que precisa "cumprir cinco tarefas" por semana. Cada tarefa
corresponde a 14 blocos de argila, tirada da terra com enxada, e
é remunerada com R$ 6. O trabalho todo é feito à tarde. "De
manhã, estou na escola", avisa.
Filha de um comerciante de
artesanato, Janildes Santana
Duarte, 50, aprendeu ainda pequena a aplicar sobre a cerâmica
a pintura de tabatinga (espécie
de argila da cor branca). Para
pintar, utiliza pincéis de pêlo de
gato feitos por ela mesma. "Gato
novinho não presta, tem de ter
mais de ano. E, se for malhado,
dá pincel melhor", ensina.
Desempregado há 13 anos, o
artesão Edemilson de Oliveira,
45, diz que a atividade virou
fonte de sobrevivência. "Trabalho com isso desde que comecei
a me entender. Cada peça é um
pouco da gente." (BL)
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