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ENTREVISTA
Com quantos cliques se faz um negócio
C. K. PRAHALAD
A internet hoje é uma ferramenta que
pode contribuir -e muito- para um micro e pequeno negócio. Essa é a opinião do
indiano C.K. Prahalad, 61, consultor em estratégia e um dos chamados "gurus da administração moderna". Em entrevista à
Folha, ele compara a web ao "telefone da
próxima geração" e recomenda sua utilização em todas as etapas de um empreendimento. A seguir, os principais trechos:
Folha - Como o avanço na tecnologia afeta
a criação de pequenos negócios?
C. K. Prahalad - Se pensarmos em tecnologia como internet, ela é fundamental. A
web permite que o empresário troque informações com clientes e fornecedores e
que coloque à venda seus produtos. E é
fonte de informação para o empreendedor, que pode ficar atento ao que está
acontecendo na concorrência e aos produtos lançados, além de poder comprá-los.
Folha - Todo negócio deve estar conectado
à internet?
Prahalad - A internet é o telefone da próxima geração. É uma ferramenta para conectar as pessoas. Eu certamente começaria um pequeno negócio tendo a internet
como parte dele, não apenas para interagir
com os clientes -montar uma mala-direta, por exemplo-, mas também para vender meus produtos, porque é um investimento muito pequeno. E também a usaria
como ferramenta interna, para gerenciar
reservas, escolher os fornecedores.
Folha - Pequenas empresas têm mais flexibilidade para lidar com mudanças?
Prahalad - A vantagem do pequeno negócio em relação ao grande, nesse caso,
é o reduzido número de pessoas que têm
de se adaptar às mudanças. Por outro lado,
se você tem um grupo menor de pessoas,
mas elas não são flexíveis, as mudanças
não acontecem. É por isso que eu sempre
digo que as companhias não são flexíveis,
flexíveis são as pessoas.
Folha - Quais as principais qualidades que
um empreendedor deve ter para ser bem-sucedido?
Prahalad - O empreendedor precisa estar
sempre atualizado, o que não quer dizer
necessariamente fazer cursos, mas ler, estar atento. Em segundo, trabalhar em grupo. Terceiro: focar sempre na performance
profissional, melhorando resultados. E
quarto: ter uma mente aberta.
Folha - O senhor acredita que a falta de dinheiro dificulta a implementação de negócios?
Prahalad - Não. O dinheiro é importante,
mas não o mais importante. Eu sei que as
pessoas pensam que o dinheiro é a limitação básica. Em alguns casos pode ser, mas
as limitações fundamentais são a imaginação e a perseverança, mesmo se as coisas
não vão bem na primeira vez.
Folha - Como um empreendedor compensa
a limitação de recursos financeiros?
Prahalad - Se prestarmos atenção em todas as companhias de alta tecnologia, hoje,
e olharmos 30 anos atrás, elas eram pequenas empresas. Amazon, Oracle, Microsoft.
Todas começaram pequenas e com poucos
recursos, mas todos os seus empreendedores tinham grandes aspirações. Poucos recursos não são o problema. O ponto está
em ter grandes aspirações e a habilidade
em obter sucesso. Hoje a CNN é muito popular no Brasil. Há 30 anos não tinha chance, comparada com a ABC, por exemplo.
Folha - E quais são as maneiras de maximizar os recursos no início de um negócio?
Prahalad - Esse é um conselho que
ninguém no Brasil precisa. O brasileiro
tem muito mais noção de lidar com o dinheiro que um americano, devido às mudanças contínuas na economia. A inflação
ensinou sobre fluxo de caixa a todos.
Apesar de o empreendedor não usar o termo, instintivamente sabe o que é e por que
tem de se preocupar com ele.
Folha - Mas por que, então, no Brasil os negócios quebram em tão pouco tempo de
existência?
Prahalad - Na maior parte do mundo,
90% dos pequenos negócios quebram antes de completar cinco anos e, diferentemente do que as pessoas pensam, a falta de
recursos não é a principal causa. Os problemas, geralmente, estão associados à falta de flexibilidade do empreendedor, que
também não contrata as pessoas certas.
Folha - Quais devem ser as principais estratégias de um empreendedor?
Prahalad - Empreendedorismo é um
exercício de otimismo. Se você não é um
otimista, não pode ser um empreendedor.
É preciso ter uma meta, saber o que quer
criar, ter um foco, e, passo-a-passo, ir atrás
dela. Para dar a partida, é preciso otimismo, imaginação, paixão e coragem.
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