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TENTATIVA E ERRO
35% já fecharam mais de uma firma; mesmo com fracassos sucessivos, esperança resiste
Insistente "caça" sucesso financeiro
BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma pequena construtora, uma
firma de comida industrial, uma
academia de ginástica, uma empresa de representação e -ufa!-
uma agência de turismo. Essa é a
trajetória do empresário Márcio
Antônio de Oliveira, 59, que agora, na quinta tentativa, diz ter encontrado o negócio ideal. Como
ele, outros empreendedores pulam de negócio em negócio à caça
de sucesso financeiro.
Detalhamento da pesquisa "Fatores Condicionantes e Taxa de
Mortalidade de Empresas no Brasil", do Sebrae Nacional, feito especialmente para a Folha, mostra
que 35% dos empresários que fecham as portas já atuaram como
empresários antes, ou seja, já enfrentaram, pelo menos, duas experiências de fechamento. A entidade entrevistou 5.727 firmas.
Se o comportamento é ruim?
Depende, dizem os especialistas.
A explicação é que fechar as portas nunca é bom, mas trocar de
negócio pode ser positivo. Se, de
um lado, a persistência é característica essencial ao empreendedor, de outro, saber a hora de recuar também é uma habilidade
imprescindível para vencer.
Uma história como a de Oliveira
é recheada de sucessos e fracassos. Ele vendeu sua parte na construtora porque identificou um nicho de mercado para fornecer comida industrial. O negócio foi
muito bem durante cinco anos
-até que tomou um calote de
uma cliente estatal e não conseguiu mais pagar os fornecedores.
"De todos esses negócios, o que
deu mais certo, no longo prazo,
foi o primeiro, o que abandonei.
A construtora deslanchou, e meu
sócio ficou rico", revela Oliveira.
"Mas não me arrependo. Era algo
em que eu acreditava. Quando
vendi minha parte, achei que estava fazendo o melhor."
A lucrativa academia, que tinha
aproximadamente mil alunos,
ficou com pouco mais de cem,
após o bloqueio financeiro do governo Fernando Collor, em 1990.
Já a firma de representação, explica ele, foi um erro de planejamento. "Eu tenho facilidade de enxergar oportunidades e de lidar com
pessoas, mas não sou tão bom
com números", confessa.
Há dois anos com uma agência
de viagens especializada na terceira idade, ele diz que vai muito
bem. "No susto, aprendi muita
coisa e agora também tenho um
sócio que entende de gestão."
Erro recorrente
Desistir ao encontrar as primeiras dificuldades e cometer sempre
os mesmos erros administrativos
(trocando apenas de ramo) são,
na análise dos consultores, as
duas principais explicações para
os fracassos sucessivos.
Há ainda uma terceira razão,
positiva: faz parte da personalidade do empreendedor gostar de
descobrir oportunidades e iniciar
negócios -manter as empresas,
entretanto, pode parecer bem
menos interessante. Como o conquistador para quem a musa deixa de ter graça após o primeiro
encontro, o empreendedor corre
o risco de perder a paixão pelo negócio "conquistado".
"Meu negócio é criar negócios",
anuncia o engenheiro mecânico
Roberto Carlos Dantas, 46, que se
classifica como "empreendedor
de carteirinha". "Quando a empresa está no auge, pego e vendo
por um bom preço. Não tenho do
que me queixar."
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