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Artista explora repetições e cria significados inesperados
Por HILARIE M. SHEETS
Em "Os Visitantes", uma videoinstalação de nove telas de Ragnar Kjartansson que será exibida pela primeira vez nos Estados Unidos em fevereiro, o artista está em uma banheira quase em transe, dedilhando um violão enquanto canta repetidamente o refrão: "Mais uma vez, eu caio em meus modos femininos".
Ao longo de uma hora, sua voz diminui e aumenta, sozinha ou em uníssono com artistas nas outras oito telas -cada qual visto como se fosse uma pintura. Cada um deles toca um instrumento em salas diferentes de uma bela mansão arruinada. O canto do refrão enigmático lembra um lamento fúnebre.
Em agosto passado, os nove artistas reuniram-se para ensaiar em uma sala da mansão, que fica a duas horas de Nova York. "Os Visitantes" seria gravado naquela semana em uma só tomada, com nove câmeras distribuídas pela casa.
Para um membro do público, o mais marcante foi o extraordinário alcance emocional e a intensidade das apresentações. Os cantores criaram uma peça que era trágica, alegre, meditativa e clamorosa.
Não foi a primeira obra desse tipo de Kjartansson, um artista islandês de 36 anos que passou mais de uma década explorando o potencial de apresentações repetitivas para produzir significados inesperados. Ele tornou-se um dos mais célebres artistas de performance do mundo. Em 2009, foi o artista mais jovem a representar a Islândia na Bienal de Veneza. Dois anos depois, sua obra "Bênção" ganhou o Prêmio Malcolm como o trabalho mais inovador na Performa, a bienal de arte performática de Nova York. Sua pesquisa sobre museus itinerantes, "Canção", está no Instituto de Arte Contemporânea de Boston até abril, e sua segunda exposição individual na galeria Luhring Augustine em Nova York, que inclui "Os Visitantes", irá de 1° de fevereiro a 9 de março.
Segundo muitos admiradores, a obra de Kjartansson atrai não apenas por sua capacidade de invocar as profundas preocupações existenciais de grande parte da arte performática baseada na resistência -ansiedade, tédio e outros desconfortos-, mas também por forçar além delas, na direção da alegria.
"Ele é alguém que entende o teatro, entende o drama e entende o prazer", disse RoseLee Goldberg, diretora da Performa. "A maioria das pessoas pensa em performances com base nos anos 1970 -difíceis, envolvidas politicamente." Mas uma obra como "Bênção", em que Kjartansson e um grupo de cantores de ópera islandeses repetem a ária final das "Bodas de Fígaro", de Mozart, durante 12 horas, com figurinos, cenário e orquestra, representa "a resistência em um nível de puro êxtase", disse.
Kjartansson afirma: "Meus trabalhos são todos uma espécie de antinarração de histórias. Eles são sempre sobre um sentimento, mas não há história".
Kjartansson fez sua primeira videoinstalação, "Eu e Minha Mãe", em 2000, enquanto estudava pintura na Academia de Artes da Islândia, em Reykjavík. Nela, o artista e sua mãe estão parados lado a lado enquanto ela cospe em seu rosto. Ele aceita a agressão, rindo às vezes. Kjartansson reencenou a peça cinco anos depois e novamente em 2010, depois de decidir continuar o ciclo a cada cinco anos. A série, em que ele passa de menino a homem, mina a ideia da mãe excessiva enquanto também mostra seu amor ao aceitar a visão inconvencional de seu filho. É um presente de um filho para a mãe que envelhece.
Kjartansson dedica-se ao que ele chama de "tédio divino" das apresentações em maratona. "Espero que eu possa oferecer um momento religioso de uma maneira humanista", disse.
Ao encenar a última ária das "Bodas de Fígaro" para a Performa, ele deu muito à plateia para absorver visualmente -dos figurinos suntuosos a um banquete de leitão. Enquanto alguns cantores demonstraram estresse durante as 12 horas, Kjartansson nunca vacilou enquanto cantava sobre arrependimento e perdão em um tom delirante.
"A palavra 'resistência' é um pouco atlética demais para mim", disse. "É bem mais difícil ser um garçom do que cantar ópera durante 12 horas."