São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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Na Índia, a força dos laços maternos

Por HEATHER TIMMONS

NOVA DÉLI - Quando o compositor indiano A. R. Rahman recebeu dois Oscars por seu trabalho em "Quem Quer Ser um Milionário?", guardou o agradecimento mais efusivo para sua mãe.
"Mamãe está aqui, suas bênçãos estão comigo", disse Rahman, 43, a 36 milhões de espectadores do Oscar. "Sou grato a ela por ter-me acompanhado o tempo todo." Mais tarde ele lembrou de agradecer a sua mulher, que também tinha ido com ele para Los Angeles.
Quando Varun Gandhi, o político e bisneto de Jawaharlal Nehru, primeiro premiê da Índia, foi acusado no mês passado de fazer comentários incendiários contra os muçulmanos, atiçando uma polêmica nacional, seu defensor público mais veemente foi sua mãe.
Apesar de um vídeo que parecia mostrar Gandhi, 29, caçoando de nomes muçulmanos e pedindo punição dura para os muçulmanos que cometem crimes, Maneka Gandhi insistiu que seu filho era inocente. "Varun não falou nada disso", ela disse. Ele foi preso sob a acusação de incitar a hostilidade religiosa. A senhora Gandhi diz que o partido governante da Índia está conspirando contra seu filho.
Os relacionamentos estão mudando rapidamente na Índia moderna e urbanizada. Mas um laço parece permanecer tão forte quanto sempre -a relação de grande ternura entre as mães indianas e seus filhos.
Alguns empresários, políticos e artistas de maior sucesso do país recebem diariamente conselhos maternos -e os seguem. Por exemplo, matriarcas com pequena experiência comercial fazem parte dos conselhos de indústrias gigantes. Recentemente, o tribunal mais elevado do país disse para dois irmãos magnatas procurarem sua mãe para resolver uma disputa corporativa.
Existe um "enorme e constante cordão umbilical entre as mães e os filhos", disse Tarun Das, especialista em comércio que é o principal mentor do grupo setorial Confederação da Indústria Indiana.
A veneração da mãe na Índia tem uma longa história, enraizada parcialmente nas poderosas deusas do hinduísmo. O país é muitas vezes citado como "Mãe Índia". Quase todo filme de Bollywood apresenta um personagem materno forte em um papel de destaque.
"As mães têm um lugar de honra em tudo o que fazemos e dizemos", disse K. Raghavendra, diretor de recursos humanos da Infosys BPO, unidade de terceirização da Infosys Technologies.
Rahman, o compositor da trilha sonora e da canção vencedoras do Oscar de "Quem Quer Ser um Milionário?", se refere a sua mãe como "sócia nos negócios". Ela o incentivou a seguir a carreira musical, apesar de ele estar interessado em ciência e eletrônica.
Os irmãos Mukesh e Anil Ambani, dois dos homens mais ricos do mundo e velhos rivais, controlam vastos impérios industriais, de telecomunicações e de varejo que valem dezenas de bilhões de dólares. Quando eles brigaram por causa dos direitos ao gás natural na Suprema Corte de Bombaim, o juiz J. N. Patel sugeriu que os bilionários de meia-idade levassem o caso a um poder ainda mais alto.
"Por que vocês não procuram sua mãe?", ele disse, com aparente seriedade. "É uma questão de importância nacional, e a resolução é de interesse público, já que o gás natural é um bem nacional", acrescentou o juiz.
Como muitos magnatas da Índia, os irmãos Ambani herdaram uma empresa familiar depois da morte do pai, e sua mãe, Kokilaben, é uma de várias matriarcas corporativas que detêm um poder além de sua educação ou experiência profissional.
Essas mulheres podem nunca ter estudado administração, mas conhecem pelo avesso as empresas que seus maridos controlavam. "Elas estão lá desde o início", disse Das. "Trazem a sabedoria prática, o instinto e a experiência de toda uma vida."


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