São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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Mensagens beneficentes de infiltram na televisão


Segurança cirúrgica e prevenção da Aids agora são parte das tramas


Por TIM ARANGO e BRIAN STELTER

A Fundação Bill e Melinda Gates recentemente gastou US$ 2 milhões para ampliar o acesso à internet em bibliotecas da Letônia, US$ 90 milhões para ajudar produtores africanos de cacau e caju e US$ 11 milhões para novas pesquisas nas Filipinas que levem a uma melhor produtividade dos arrozais.
E o dinheiro da fundação colaborou com outra causa: a redação do roteiro de um recente episódio de "ER" que teve uma participação especial de George Clooney. A enorme fundação, abarrotada com os bilhões de dólares de Gates e de Warren Buffett, é bem conhecida por sua miríade de projetos de saúde e educação mundo afora. É menos conhecida, no entanto, por sua influência nos bastidores, ao ajudar a moldar tramas e inserir mensagens em entretenimentos populares, como os programas da TV norte-americana "ER", "Law & Order: SVU" e "Private Practice".
As mensagens da fundação a respeito de prevenção anti-HIV, segurança cirúrgica e transmissão de doenças contagiosas foram parar nessas séries. Agora a Fundação Gates deve ampliar seu envolvimento e gastar mais dinheiro para influenciar a cultura popular, graças a um acordo com a Viacom, que controla os canais MTV, VH1, Nickelodeon e BET. Esse tipo de merchandising é o equivalente social ou filantrópico ao merchandising de produtos na TV e no cinema. Em vez de vender Coca-Cola ou carros da General Motors, por exemplo, essa prática promove uma vida saudável. A meta é entremear tramas com temas educativos nos programas já existentes, ou criar novas atrações voltadas para a educação.
Os esforços das entidades filantrópicas para influenciar o entretenimento não são novidade, embora o público provavelmente tenha menos consciência disso do que dos merchandisings óbvios nos quais, por exemplo, uma lata de Coca-Cola aparece nas mãos de um personagem. A Fundação Família Kaiser, que trata de questões de saúde, faz esse trabalho há 12 anos. Já colocou tramas sobre HIV/Aids em programas da CBS e UPN (atual CWnetwork).
"Fazemos isso há muito tempo, mas só mais recentemente começamos a ver mais fundações e [entidades] não lucrativas trabalharem com esta abordagem", disse Tina Hoff, vice-presidente e diretora de parcerias com a mídia de entretenimento da Fundação Kaiser.
Hoff disse que a principal razão para essa estratégia é combater informações imprecisas a respeito da saúde que aparecem na cultura popular. "Não se trata de plantar uma mensagem", disse ela. "Partimos do ponto de vista de garantir a precisão."
Instituições que já usaram esse método dizem que ele foi eficaz no sentido de influenciar o comportamento da opinião pública. "Há muitas pesquisas que demonstram que, quando um personagem de uma série diz 'Vou ser um doador de órgãos', é mais eficaz do que distribuir um panfleto", disse Martin Kaplan, diretor do Centro Norman Lear, entidade de pesquisas e políticas públicas, cujo programa intitulado "Hollywood, Saúde e Sociedade" recebeu no ano passado uma verba da Fundação Gates.
Foi o esforço de Kaplan que conseguiu influenciar a trama da volta de Clooney a "ER". O Centro Lear organizou uma reunião entre os roteiristas do programa e Atul Gawande, cirurgião e articulista da revista "The New Yorker", que informou o grupo a respeito da lista de recomendações da Organização Mundial da Saúde para cirurgia seguras. O assunto era parte de uma das tramas de "ER": o transplante renal do personagem de Noah Wyle, o dr. Carter. "Nossa opinião é de que não é preciso sacrificar o valor do entretenimento para ser preciso", afirmou Kaplan.


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