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"Uma tarefa interminável"
"A Herança de Sísifo -da arte
de carregar pedras como ombudsman na imprensa". Esse é o
título do livro que o jornalista
Lira Neto, 37, lançou na última
quinta-feira em Fortaleza (CE).
Advogado dos leitores do jornal
"O Povo" em 98, Lira Neto, 11
anos de profissão, retrata nesse
trabalho a sua experiência.
Além da Folha, o jornal cearense
é o único na imprensa brasileira
a manter um ombudsman. A seguir, entrevista com o autor, hoje
coordenador editorial da Fundação Demócrito Rocha, do grupo que edita "O Povo".
Folha - Por que esse título?
Lira Neto - Sísifo é o personagem mitológico condenado pelos
deuses a carregar uma imensa
pedra até o topo de uma montanha, para sempre vê-la despencar ladeira abaixo. É metáfora
para uma tarefa interminável,
sempre inacabada.
Folha - Qual o maior obstáculo
para exercer essa função?
Lira Neto - Está no fato de que
os jornalistas são impermeáveis
à autocrítica. Adoram dissecar
pecados alheios, mas ficam profundamente incomodados
quando passam à condição de
vidraça.
Folha - Ganhou inimizades na
Redação do jornal?
Lira Neto - Ao analisar o trabalho de colegas, o ombudsman está sempre cortando a própria
carne. Certa vez recebi um abaixo-assinado agressivo da parte
de 34 colegas por conta de uma
crítica ao sensacionalismo de
uma matéria. Dentre eles havia
amigos até então bem próximos.
Folha - Qual foi a polêmica mais
difícil que o senhor enfrentou?
Lira Neto - Uma das mais acirradas foi quando critiquei o fato
de jornalistas de "O Povo" serem
também assessores de imprensa.
É uma distorção grave, que infelizmente ainda perdura na imprensa local.
Como represália, fui acusado
de também ter dois senhores,
pois dava aula na Universidade
Federal do Ceará. Achei a comparação descabida. No meu caso
não havia qualquer conflito de
interesse. Mas tive de renunciar
ao emprego na universidade.
Folha - A existência de um ombudsman é puro marketing?
Lira Neto - Pode ser marketing,
entre outras coisas. Mas cabe
perguntar: se é só marketing, por
que os outros jornais também
não têm o seu ombudsman? Claro que ele agrega imagem positiva ao veículo, mas acredito que,
mais do que isso, ele representa
uma forma concreta de a sociedade interagir e discutir o papel
dos jornais e dos jornalistas.
Folha - Houve alguma tentativa
da direção do jornal de podar seu
trabalho?
Lira Neto - Nunca tive uma única linha da minha coluna alterada. O ombudsman tem de desfrutar de completa independência. Mesmo quando discute as
contradições inerentes aos negócios e interesses políticos e econômicos da própria empresa de comunicação. Talvez por isso tão
poucos jornais brasileiros toparam o desafio de instituir a figura do ombudsman.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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