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OMBUDSMAN
Tempos difíceis
MARCELO BERABA
A "IstoÉ" produziu, na semana passada, uma edição
histórica, para o bem e para o
mal.
Sua principal reportagem,
"Presidente e diretor do BC esconderam da Receita bens no exterior", derrubou na quarta-feira o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Augusto de Oliveira Candiota. Estranhamente, no entanto, a capa
da revista não foi a reportagem
exclusiva, mas um material sobre o Rio de Janeiro com cara de
publicidade disfarçada.
O Cristo Redentor, com capacete e ferramentas de operário,
gravata e uma pasta de executivo, ilustrou o título "Rio trabalhador (apesar da fama em contrário)". Dentro, foram 19 páginas de textos, sem autoria e sem
nenhum vislumbre de senso crítico jornalístico, e duas páginas
de anúncios do Sesi (Serviço Social da Indústria) do Rio, que faz
parte do Sistema Firjan, a Federação das Indústrias do Estado
do Rio de Janeiro.
O material começa com uma
entrevista com a governadora
Rosinha Matheus (PMDB), segue com outra com o presidente
da Firjan, Eduardo Gouveia
Vieira, e trata de demonstrar o
"vigor econômico" do Estado.
Não há uma referência ao problema da criminalidade, não há
uma linha a respeito das mazelas sociais, não há uma menção
às empresas que deixaram o Estado.
A edição desse tipo de material
laudatório, sem compromisso
com o jornalismo, não teria problema se viesse carimbada como
produto publicitário e a identificação de quem está pagando.
Nesse caso, o cidadão fluminense, ou um sócio da Firjan, poderia se sentir lesado e reclamar,
mas a revista e o anunciante estariam sendo honestos com seus
leitores. E, nesse caso, jamais seria capa de uma revista de informação.
Procurei a direção da "IstoÉ",
a Firjan e o governo do Estado.
Queria saber se o material foi
pago e por quem.
O secretário estadual de Comunicação Social, Ricardo Bruno, responsável pela aplicação
das verbas publicitárias do governo fluminense, informou que
o Estado não pagou pelo material da "IstoÉ". "Fomos procurados com a informação de que fariam uma radiografia econômica do Rio que inauguraria uma
série de radiografias que farão
em vários Estados."
A direção de Redação da "IstoÉ" e a Firjan não quiseram comentar o assunto.
É público, e já tratei desse assunto em algumas colunas, que
as empresas de jornalismo vivem
grave crise de endividamento.
Também é notório que a disputa
por anúncios ficou mais acirrada com a chegada de novos veículos e porque o bolo publicitário
cresce muito lentamente.
Isso faz com que jornais, rádios, revistas e televisões se empenhem em buscar formas "criativas" de atrair anunciantes. É
um período difícil, em que um
dos princípios da independência
jornalística, o que separa a redação da publicidade, é perigosamente afrontado.
Mas nenhuma crise ou pretexto pode servir de desculpa para o
rompimento desse princípio. As
empresas jornalísticas, se pretendem manter a credibilidade, devem estar cientes de que os leitores avaliam como se conduzem,
principalmente nos períodos
mais difíceis.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman,
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