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OMBUDSMAN
Escândalo-gangorra
RENATA LO PRETE
Assim como não estava em
sintonia com a iminência do
afastamento de Celso Pitta na
sexta-feira, 24 de março, no final de semana passado a Folha
pareceu desconsiderar o cenário
de uma vida curta para a liminar que tirou o prefeito do cargo.
Entre várias evidências do
"enterro" precipitado de Pitta, a
edição de sábado sustentou na
manchete que Régis de Oliveira
já estava prefeito. Era a interpretação do Ministério Público.
Foi tratada como certeza, embora houvesse divergência sobre
o assunto. Como se viu depois, o
vice não chegou a assumir.
No domingo, o jornal anunciou para o dia seguinte o início
da batalha dos advogados para
tentar reconduzir Pitta ao Palácio das Indústrias.
Com essa edição em mãos, o
leitor ficou sabendo por rádio,
TV e Internet que um recurso
havia sido aceito já no domingo
e Pitta estava de volta.
Na capa da edição de sábado,
a que noticiou o afastamento de
Pitta, o jornal destacou o fato de
que a ação dos promotores se
baseou na "relação do prefeito
com o empresário Jorge Yunes,
revelada pela Folha".
A formulação é 50% correta.
Das quatro reportagens utilizadas na acusação, duas foram
feitas por outros jornais da casa:
uma pelo "Agora" e outra (a
que revelou o empréstimo de
Yunes a Pitta) por sua antecessora, a "Folha da Tarde".
Só em página interna houve
menção a esses jornais. Ainda
que tenha publicado as duas
histórias, não é correto que a
Folha reivindique o mérito por
elas.
O esgotamento do efeito novidade nas acusações de Nicéa
Pitta está deixando a imprensa
desnorteada, a ponto de levar a
Câmara Municipal mais a sério
do que os antecedentes da Casa
recomendam.
Na quarta-feira passada,
quase todos os jornais de São
Paulo apostaram suas fichas no
diagnóstico de que já havia votos suficientes para aprovar a
abertura do processo de impeachment.
Até o número era o mesmo
nas diferentes reportagens: 45
dos 55 vereadores, dizia-se, estavam a favor (eram necessários 33).
Na quinta, os títulos vieram
em sentido oposto. Os convertidos ao impeachment "ameaçavam recuo". O processo "começava a derrapar".
Na sexta, surgiram tentativas
de explicação: ameaças de retaliação, ofertas atraentes. Ou seja, nada muito diferente do que
se verificou nas outras ocasiões
em que Pitta precisou salvar seu
pescoço na Câmara.
É improvável que a inclinação
tenha mudado radicalmente de
um dia para outro. É mais plausível interpretar que a declaração de voto colhida pelos jornais
não tinha consistência para virar manchete.
No "Estado" de sexta-feira,
Nicéa disse possuir "30 novas fitas" com denúncias contra nomes diversos na cúpula da prefeitura paulistana. O texto saiu
em um pé de página, indício de
que mesmo o jornal que a ex-primeira-dama mais admira
(declaração recente dela) começa a se cansar da dinâmica de
suas acusações.
Logo depois da entrevista à
Rede Globo, há três semanas,
poucos se atreviam a registrar
com algum distanciamento as
afirmações de Nicéa, tomadas
como fato e sem reservas.
Agora, quase todos têm a
preocupação de ressalvar que
ela declarou isso ou aquilo "sem
apresentar provas".
Nicéa pode falar em 30, 60 ou
90 fitas. Se mantidas no padrão
atual, suas aparições tendem a
enredá-la cada vez mais e os alvos cada vez menos.
Na noite de sexta-feira, as Redações foram agitadas pela lista
com nomes de vereadores e números em código publicada pela
revista "IstoÉ", um papel de autenticidade e significado ainda
por determinar.
Ele iria ao encontro da principal acusação de Nicéa, a de que
seu ex-marido livrou-se do impeachment, em maio do ano
passado, pagando pelo apoio de
vereadores.
É cedo para prever os desdobramentos da reportagem, mas
ela parece capaz de dar novo
impulso a este escândalo-gangorra, que vinha em rota descendente desde que Pitta voltou
ao cargo.
Caso isso aconteça, será a primeira revista semanal a contribuir com novidade de peso para
a cobertura.
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Renata Lo Prete é a ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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