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A compra da Embratel
A Folha publicou no domingo
passado sua reportagem de maior
impacto do ano. Baseado em
análises de documentos apreendidos legalmente pela polícia de
São Paulo na presidência e na vice-presidência da Telefônica, o
jornal informou que as três principais empresas de telefonia do
país, reunidas num consórcio para comprar a Embratel, pretendiam recuperar seus investimentos no negócio aumentando "até
o teto" suas tarifas.
Os documentos recolhidos pela
polícia permitiram que o jornal
desse a seguinte manchete: "Teles
negociam compra da Embratel
para subir preços". Esse tipo de reportagem, que envolve empresas
privadas e disputas por mercados,
costuma gerar imediatamente reclamações e pedidos de esclarecimentos. Desta vez, isso não ocorreu. Na noite de quinta-feira, a
assessoria de comunicação da Telefônica encaminhou para o ombudsman um documento intitulado "Argumentário sobre noticiário da Folha de S. Paulo", com
duas reclamações.
A primeira é relativa à reportagem "Redação de lei vai ser investigada", de 27 de abril, na página
B4 da edição que circula em São
Paulo. Segundo a Telefônica, a
notícia levanta a suspeita de suposta interferência do presidente
do Grupo Telefônica na redação
de decreto de junho de 2003, que
acabou com a indexação para o
reajuste das tarifas telefônicas. A
empresa argumenta, com razão,
que o decreto foi discutido em
reunião das teles com o presidente em junho do ano passado e foi
amplamente noticiado pela imprensa.
A segunda reclamação diz respeito ao texto "Documento
apreendido traz raio-X do Cade",
publicado na quarta-feira na página B6 do caderno Dinheiro. A
reportagem revela que, entre os
papéis analisados, foi encontrado
um "roteiro de orientação do
lobby das três teles fixas". Um relatório da Telefônica detalhava
os perfis políticos de integrantes
de órgãos controladores e reguladores do sistema de telecomunicações. Caso conseguisse comprar
a Embratel, o consórcio das três
teles precisaria da autorização
desses órgãos.
Segundo a assessoria de comunicação da Telefônica, a "reportagem tenta travestir de ilegitimidade uma prática comum nas
empresas e órgãos públicos (e até
na própria imprensa), como os
perfis de deputados ou ministros,
sempre que se inicia um novo governo ou uma nova legislatura. A
Folha, porém, na reportagem em
questão, tenta caracterizar essa
prática rotineira e legítima em
instrumento de pressão contra os
órgãos de defesa da concorrência
-o que é absurdo".
Nesse caso, discordo da assessoria da Telefônica. As informações
publicadas adquiriram interesse
jornalístico porque fazem parte
de um contexto maior de disputa
por mercado. O fato de o levantamento de perfis ser um trabalho
rotineiro na empresa não significa que não deva ser notícia.
A Folha já havia publicado essas reclamações no seu "Painel do
Leitor" de sexta-feira, mas sem
resposta do jornal. Perguntei à Secretaria de Redação se a falta de
respostas significava que o jornal
admitia os erros e obtive a seguinte resposta da secretária de Redação Suzana Singer: "Decidimos
não responder à carta da Telefônica porque ela não contradiz nenhuma informação publicada.
São apenas interpretações diferentes sobre o material apreendido".
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