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Sair falando coisas
A identificação de um empresário que teria tentado subornar
o ex-secretário municipal da
Saúde José Aristodemo Pinotti
deu alento, nos jornais de sexta-feira, ao caso das denúncias de
corrupção no PAS feitas à Folha
por Pinotti e pelo vice-prefeito
Regis de Oliveira. A história vinha definhando.
O primeiro em artigo e o segundo em entrevista, ambos haviam afirmado ao jornal ter recebido propostas desse tipo no
período em que Celso Pitta esteve afastado da prefeitura por decisão da Justiça.
De acordo com eles, os autores
queriam, em troca, que fosse
mantido o modelo do PAS, ao
qual estão associadas irregularidades de toda ordem.
A manchete com a acusação
do vice ("Tentaram me subornar, diz Regis") saiu no sábado,
24, um dia depois da publicação
do artigo de Pinotti.
De saída, o jornal teve de reconhecer que, não obstante o impacto das afirmações, nenhum
dos dois dispunha de provas.
Isso não impediu que o Ministério Público considerasse as denúncias "graves" e recebesse lugar de destaque, na edição de
domingo passado, para anunciar a decisão de apurá-las.
Assim, não entendi o termo
usado na Folha de quarta-feira,
na qual se lia que Pinotti "frustrou" a expectativa dos promotores ao não apresentar, em seu
depoimento, "provas da suposta
tentativa de suborno".
Como "frustrou", perguntei na
crítica interna, se o próprio jornal havia deixado claro, desde o
início, que prova não havia?
Do entusiasmo de domingo, o
Ministério Público migrou para
a advertência de que "não se pode sair por aí falando coisas que
podem comprometer outras pessoas".
Também as declarações do ex-secretário foram mudando de
tom. Na sexta-feira, em longa
entrevista à Folha, ele manteve
as críticas ao PAS (uma "máquina de matar"), mas se queixou
da mídia (sempre ela).
Por quê? "Afunilou o conjunto
do que eu tenho declarado à tentativa de suborno, que na realidade é um episódio importante,
mas não é nem de longe o principal."
Bem, no dia em que o jornal
considerar secundária uma afirmação como "secretaria e secretário tinham preço" (referência
à gestão de Jorge Pagura no artigo de Pinotti), estará em situação mais terminal que a do sistema de saúde do município.
Não pretendo, com estas observações, sugerir que a Folha
devesse ter dado menos atenção
ao caso. Atenção ele merece toda.
Penso apenas que o episódio é
exemplo da corda bamba em
que o jornal tem de se equilibrar
quando declarações são seu único esteio, e elas começam a escapar.
Estarei em férias nas próximas
duas semanas. Nesse período,
casos que necessitem de providência urgente serão levados ao
conhecimento da direção do jornal por Rosângela, secretária do
Departamento de Ombudsman.
Responderei às demais mensagens a partir do dia 17. Esta coluna voltará a ser publicada no
dia 23.
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de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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