|
Texto Anterior | Índice
O número da discórdia
Quando vi as capas dos jornais
de sexta-feira soube de imediato
o que me esperava. O pós-feriado
limitou o número de protestos,
mas a intensidade foi a mesma
de todas as ocasiões em que o assunto é padre Marcelo.
O saldo: quatro leitores enfurecidos porque a Folha questionou
a informação de que o evento comandado pelo religioso no dia
anterior teria reunido 2,4 milhões de pessoas; um leitor agastado com a imprensa por "menosprezar a inteligência" do público ao vender tal cifra como
verdadeira.
Além da Folha, apenas o "Agora" pôs o número em dúvida. Os
demais o assumiram como fato
em seus títulos (o do "Estado" falou em 2,5 milhões). Nos textos,
foi atribuído à Polícia Militar e
ao padre Marcelo.
A Folha registrou a estimativa,
mas acrescentou outras três: 2,2
milhões, 700 mil (ambas com
origem na PM) e 235 mil (cálculo do jornal baseado na área
ocupada e na quantidade de
pessoas que ela poderia abrigar,
acrescido de previsão do público
disperso em outros pontos do autódromo de Interlagos).
Na sexta-feira, a polícia reafirmou em nota os 2,4 milhões.
Relatada a salada de números,
passo ao mais importante. Chuta-se muito na estimativa de
multidões. A chancela da PM está longe de garantir acerto.
Procedam ou não os 235 mil, é
correto o princípio de confrontar
o dado oficial e/ou dos organizadores com cálculo alternativo,
sejam os eventos católicos, evangélicos ou manifestações contra
a política econômica.
Mas certo mesmo o jornal estaria se tivesse chamado o Datafolha para medir o público in loco.
Só assim teria informação mais
sólida para contrapor ao entusiasmo do padre e da TV Globo,
transmissora das showmissas.
Por fim, a dúvida de um leitor:
por que a Folha desconfiou, mas
a Folha Online não? Ele se refere
ao fato de o serviço eletrônico do
jornal ter passado parte da quinta-feira com os 2,4 milhões em
sua manchete.
Boa pergunta. O tempo real
não pode esperar por explicação
que leva horas para ser apurada,
mas alguma semelhança de personalidade tem de haver entre a
Folha do papel e a da Internet.
No caso, bastava guardar distância do número, atribuindo-o
à fonte logo no título.
Texto Anterior: Ombudsman - Renata Lo Prete: Descaso com o império Índice
Renata Lo Prete é a ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Renata Lo Prete/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
|