São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2000

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O número da discórdia

Quando vi as capas dos jornais de sexta-feira soube de imediato o que me esperava. O pós-feriado limitou o número de protestos, mas a intensidade foi a mesma de todas as ocasiões em que o assunto é padre Marcelo.
O saldo: quatro leitores enfurecidos porque a Folha questionou a informação de que o evento comandado pelo religioso no dia anterior teria reunido 2,4 milhões de pessoas; um leitor agastado com a imprensa por "menosprezar a inteligência" do público ao vender tal cifra como verdadeira.
Além da Folha, apenas o "Agora" pôs o número em dúvida. Os demais o assumiram como fato em seus títulos (o do "Estado" falou em 2,5 milhões). Nos textos, foi atribuído à Polícia Militar e ao padre Marcelo.
A Folha registrou a estimativa, mas acrescentou outras três: 2,2 milhões, 700 mil (ambas com origem na PM) e 235 mil (cálculo do jornal baseado na área ocupada e na quantidade de pessoas que ela poderia abrigar, acrescido de previsão do público disperso em outros pontos do autódromo de Interlagos).
Na sexta-feira, a polícia reafirmou em nota os 2,4 milhões.
Relatada a salada de números, passo ao mais importante. Chuta-se muito na estimativa de multidões. A chancela da PM está longe de garantir acerto.
Procedam ou não os 235 mil, é correto o princípio de confrontar o dado oficial e/ou dos organizadores com cálculo alternativo, sejam os eventos católicos, evangélicos ou manifestações contra a política econômica.
Mas certo mesmo o jornal estaria se tivesse chamado o Datafolha para medir o público in loco. Só assim teria informação mais sólida para contrapor ao entusiasmo do padre e da TV Globo, transmissora das showmissas.
Por fim, a dúvida de um leitor: por que a Folha desconfiou, mas a Folha Online não? Ele se refere ao fato de o serviço eletrônico do jornal ter passado parte da quinta-feira com os 2,4 milhões em sua manchete.
Boa pergunta. O tempo real não pode esperar por explicação que leva horas para ser apurada, mas alguma semelhança de personalidade tem de haver entre a Folha do papel e a da Internet.
No caso, bastava guardar distância do número, atribuindo-o à fonte logo no título.


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