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ENTREVISTA
"A veiculação de notícias às vezes me esmaga"
Carlos Lessa, presidente do
BNDES, está envolvido diretamente na formulação do programa de financiamento para
as empresas de comunicação.
Ele é economista, tem 67 anos,
foi reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
define-se como desenvolvimentista e se declara "leitor
compulsivo de livros e jornais".
Ombudsman - Por que o
BNDES tem de emprestar dinheiro para as empresas de comunicação financiarem suas dívidas? Não significa favorecer
um setor que tem forte poder de
pressão?
Carlos Lessa - O BNDES não
tem nenhuma tradição de
atuar no segmento. O que nos
sensibiliza é o fato de o segmento ser integrado por mais
de 2.000 empresas, se somarmos jornais, revistas, radiodifusão e televisão. E o volume de
emprego é uma variável não
perfeitamente estimada, mas
há quem fale em 500 mil empregos diretos e indiretos. O interessante é que emprega desde mão-de-obra não-qualificada até a mais qualificada possível, passando pelo lado tecnológico e pelo lado criativo. Esse
setor tem uma outra característica muito importante. Ele é
o difusor dos conteúdos que
afirmam a identidade de uma
nação. Então não podemos
deixar esse setor se atrofiar, se
desestruturar e eventualmente
perder a sua identidade.
A prática da democracia exige que esse setor exista até
mesmo com as suas incongruências, as suas divergências, as suas variedades.
O ponto importante é que
nós, do BNDES, não queremos
ser o balcão disso. Se esse programa vier a ser aprovado, ele
será operado por agentes do
sistema financeiro, pelos bancos. Quem vai analisar o risco
do empréstimo e decidir emprestar ou não serão os bancos.
Ombudsman - Esse tipo de socorro não reforça o modelo que
tende para a concentração e o
oligopólio?
Lessa - Creio que não. Uma linha como essa é uma linha que
deve ligar desde a microscópica empresa até a maior do setor. Não há nenhuma orientação preferencial para nenhum
tipo de empresa. Um ponto
importante é o seguinte: nós financiamos empresas, não pessoas. E a cultura do setor historicamente é muito associada a pessoas. Tanto que, para atender as
regras bancárias de um BNDES, as
empresas terão de tomar uma série de providências, como auditoria regular e governança corporativa.
Ombudsman - Significa dizer que
essas empresas hoje não têm transparência?
Lessa - Significa dizer que, para o
BNDES apoiar, tem de ter uma
transparência, que é o normal nas
operações dos bancos. O programa pode ser pedagógico na gestão
das empresas
Ombudsman - O senhor lê jornais?
Lessa - Leio. O meu problema é
que ultimamente não consigo
tempo nem para respirar.
Ombudsman - Gosta do que lê?
Lessa - Eu sou um leitor compulsivo de livros e jornais.
Ombudsman - O senhor tem prazer de ler os jornais?
Lessa - Eu tenho prazer de ler
muitos cronistas e alguns editorialistas. A veiculação de notícias, eu
confesso a você, às vezes ela me esmaga por ser tão superabundante
e tratada com tanta ligeireza que
em certos momentos ela me parece um pouco excessiva.
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