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A eleição nos EUA
Em relação à eleição nos Estados Unidos, destaco alguns
aspectos da cobertura da Folha. Primeiro, o esforço do jornal, num período de contenção
de despesas, ao enviar àquele
país jornalistas experientes
(como Clóvis Rossi, Fernando
Canzian e Sérgio Dávila) e ao
reservar bastante espaço (papel) para a cobertura diária e
os cadernos especiais.
O segundo ponto não diz respeito apenas à Folha, mas a
praticamente todos os jornais
brasileiros: foi indisfarçável a
simpatia dos diários pela candidatura democrata de John
Kerry.
Por fim, a extrema dependência que temos das agências
e serviços jornalísticos americanos. Essa subordinação restringe a publicação de pontos-de-vista de fora dos Estados
Unidos.
Reproduzo a seguir alguns
textos publicados pela Folha
ao longo desta semana e que o
leitor pode não ter percebido.
As críticas podem ser aplicadas
a outras imprensas e a outras
coberturas:
"Não vi nenhuma novidade
na cobertura, que foi bastante
superficial. A grande imprensa
tem a tendência de dar uma
enorme ênfase a pequenas
controvérsias, como o histórico
militar de [George] Bush ou a
passagem de [John] Kerry pela
Guerra do Vietnã, mas negligencia os temas relevantes. (...)
A grande imprensa não consegue deixar passar questões
irrelevantes. Contudo não cobre profundamente assuntos
muito sérios, como a Guerra
do Iraque ou a situação econômica do país."
Thomas Patterson, professor
da Kennedy School of Government da Universidade Harvard, em "Mídia foi "superficial", diz analista", em 2/11.
"Apesar da polarização ideológica [que dividiu a mídia dos
EUA], a maior parte da cobertura da campanha presidencial de 2004 não perdeu o caráter fundamentalmente sensacionalista, superficial e de concentração em assuntos triviais
(como a vida pessoal dos candidatos e sua família, aspectos
duvidosos de sua biografia
etc.) que caracteriza o jornalismo político nos EUA."
Carlos Eduardo Lins da Silva,
em "Mídia dos EUA também
racha na eleição", em 3/11.
"A conduta da imprensa poderá ser um fator que compense, em medida ao menos razoável, o fracasso dos democratas para compor a oposição. Boa parte da imprensa
importante adotou publicamente a candidatura Kerry. O
provável é que, ao seu constrangimento pela atitude leviana com que se sujeitou à
política belicista e falaciosa de
Bush, some agora mais um
motivo para empenhar-se na
vigilância que só há pouco passou a exercer sobre os métodos
de Bush e seus associados. A
imprensa norte-americana sabe e sente as responsabilidades
negativas que lhe pesam desde
a sujeição que aceitou a partir
do 11 de Setembro, e a busca da
reabilitação ética (e jornalística, portanto) em relação ao
governo pode resultar em controles positivos."
Janio de Freitas, em "O melhor", coluna de 4/11.
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