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OMBUDSMAN
Chico e Cuba
BERNARDO AJZENBERG
"Será que ele e os demais signatários não querem assinar um manifesto pró-Fernandinho Beira-Mar também? O nível
de criminalidade entre ele e Fidel é parecido."
Esse protesto foi enviado por
um leitor a propósito da notícia
publicada terça-feira de que o
compositor Chico Buarque assinara um texto em defesa de Cuba lido no 1º de Maio em Havana. O manifesto repudia os EUA
e se omite quanto à recente onda
de repressão a dissidentes cubanos, com prisões e fuzilamentos.
Surge num momento grave, em
que celebridades culturais se dividem sobre o caso.
A mensagem revela como a
imagem de um artista pode ser
abalada por posicionamentos
políticos. Mas mostra também
outro fenômeno: o leitor confia
no jornal, dá como fato o que ele
publica. E aqui a coisa ficou encrencada, pois Chico simplesmente não tinha assinado manifesto algum em apoio a Cuba.
O quadro ao lado ilustra como
o jornal tratou o episódio.
No primeiro dia (terça), dedicou-lhe uma chamada na capa
("Chico Buarque assina manifesto pró-Cuba") e um título de
seis colunas em página interna
("Chico Buarque assina carta
em favor de Cuba").
Ante o desmentido de um representante do artista, um pequeno texto saiu na quarta-feira, em pé de página ("Chico
Buarque não defendeu Cuba, diz
assessor"). Nele, sem lembrar
que ela própria divulgara com
destaque e títulos certeiros a "informação", a Folha escreve que
"as agências internacionais informaram anteontem que Chico
assinara a lista".
Finalmente, na sexta, uma
carta do mesmo assessor no
"Painel do Leitor" e um "Erramos" dão o desfecho, até aqui,
para o episódio.
O editor de Mundo, Sérgio
Malbergier, explica que a Folha
usou informações de agências
internacionais e constatou num
site pró-Cuba que o nome de
Chico estava na lista de apoio.
Tentou ouvi-lo durante dois
dias. No primeiro, não conseguiu. "Publicamos então que
agências e site informavam que
ele teria assinado a lista e que
não havíamos conseguido falar
com ele", afirma o jornalista.
No segundo dia, relata, o assessor negou que Chico fosse signatário do documento -o que foi
publicado-, mas disse que ele
não poderia se manifestar porque estaria concentrado na elaboração de um livro. "Fica aqui
o convite para Chico se pronunciar sobre o assunto com mais
clareza", conclui Malbergier.
Penso que o jornal cometeu no
caso ao menos três equívocos.
O primeiro foi editar com tanto destaque, títulos e textos taxativos um dado grave não confirmado. A reportagem cita uma
agência, mas apenas ao informar que, segundo ela, Chico teria sido um dos últimos a assinar
o manifesto. Também registra
que não conseguiu falar com o
compositor, mas não explicita se
o procurara para confirmar a informação ou para comentá-la.
Títulos e textos mais cautelosos
atenuariam o estrago.
O segundo equívoco foi quase
"se esconder" no dia seguinte
(quarta), publicando o desmentido do assessor apenas num pé
de página e atribuindo toda a
responsabilidade às agências internacionais, como se o jornal
não tivesse bancado a notícia.
Claro que publicar uma carta
de desmentido e um "Erramos",
como ocorreu na sexta, é positivo. Mas é também pouco, reconhecimento insuficiente, desproporcional em relação ao barulho
causado pelo destaque anterior
-e foi esse o terceiro erro do jornal no episódio. Uma reportagem que procurasse esclarecer o
caso ficou faltando, ao menos
até o fechamento desta coluna.
Comecei com a mensagem de
um leitor e encerro com a de um
outro, cuja contundência -após
a correção publicada- reflete a
gravidade da questão:
"É simplesmente revoltante a
agressão que a Folha cometeu
contra o cantor Chico Buarque
(...) uma acusação seriíssima em
tempos de fuzilamento (...) A Folha pisoteou seu "Manual da Redação", maculou fortemente a
imagem de Chico e desrespeitou
qualquer princípio básico do jornalismo, da ética e do bom senso
(...) O que aconteceu é imperdoável, inadmissível, inacreditável.
Resumindo, é de enojar, revolta o
estômago. Estragou minha manhã, meu humor, meu dia."
Não sei se Chico Buarque ainda vai ou não se manifestar sobre
a repressão castrista nem o que
ele pensa a respeito dela.
Mas esse e-mail -apesar de algum exagero nos adjetivos- dá
o que pensar sobre a responsabilidade que o jornal tem perante
seus leitores e perante os protagonistas de suas notícias.
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de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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