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Ainda o clone
O editor de Ciência, Marcelo
Leite, envia réplica ao texto
"Clone no palco", publicado no
domingo passado, sobre como a
Folha noticiou o anúncio, pela
empresa Clonaid, do nascimento
do suposto primeiro bebê clonado. A seguir, seus argumentos:
"1) O primeiro erro (do ombudsman) foi tentar apoiar-se
num editorial para criticar o noticiário publicado uma semana
antes, como se o primeiro constituísse uma admoestação aos autores do segundo.
Existe na Folha, como deve
existir, uma separação entre opinião do veículo e as reportagens
que publica, não devendo estas
serem pautadas nem influenciadas por aquela.
Além disso, como o editorial
não apresenta argumento algum que já não estivesse no noticiário, não seria despropositado
supor que as reportagens e comentários publicados no calor
da hora possam ter contribuído
para a ponderação do texto de
opinião do jornal.
2) O ombudsman acusa a Editoria de Ciência de "resvalar para o sensacionalismo" e de sucumbir "à lógica da notícia como
espetáculo", apesar de "ciente das
insuficiências resumidas dias
depois no editorial". Diz que o
jornal não abriu mão "de seu
saudável ceticismo", mas ainda
assim deu destaque "desproporcional" ao anúncio da Clonaid.
Como não se perguntou pela
razão dessa aparente discrepância, deve ter concluído de antemão que os editores são néscios
ou esquizofrênicos.
Como não me incluo em nenhuma das categorias, vejo-me
constrangido a esclarecer-lhe
por que não sucumbi(mos) à lógica da notícia como espetáculo:
pela simples razão de que essa
lógica é a de não fazer pensar, e
todo nosso noticiário seguiu na
direção oposta.
Não com juízos de valor peremptórios, como é lícito fazer
num editorial, mas com informação, contextualização e análise.
3) O ombudsman poderia ter
destacado esse diferencial do noticiário publicado pela Folha
(repercussão ampla com cientistas, bioeticistas e religiosos, análise por um dos mais conhecidos
filósofos brasileiros, frases e argumentos de pensadores do porte de um Jürgen Habermas e de
um Francis Fukuyama), editado
justamente para demonstrar o
alcance cultural e extracientífico
de um eventual clone humano,
mas preferiu entregar-se a uma
contabilidade menor de espaços
e destaques.
Como os editores dos concorrentes brasileiros da Folha, seguiu o caminho mais fácil e óbvio, o de estribar-se apenas na
autoridade alheia (a de editorialistas, no seu caso) e decidir-se
pelo que parece mais prudente:
noticiar envergonhadamente,
como quem pede desculpas,
aquele que pode vir a revelar-se
como o fato mais importante de
2003 -se confirmado, repita-se
mais uma vez, para que fique
bem entendido-, o nascimento
do primeiro clone humano.
4) Quem fez sensacionalismo
foram os raelianos da Clonaid. A
Folha noticiou -e criticou-,
com o devido destaque, essa manifestação inaudita da "hybris"
biotecnológica."
A definição do espaço a ser reservado a determinado assunto
num jornal é um dos componentes essenciais de uma opção editorial. Reflete o valor atribuído à
notícia em questão. Não é objeto
de uma "contabilidade menor".
Continuo a acreditar, apesar
das ponderações do editor, que
houve excesso por parte da Folha no espaço dedicado ao fato e
que, dessa forma, o jornal acabou por alimentar o jogo publicitário embutido no anúncio da
Clonaid.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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