São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000

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Temos que pegar

Quem convive com crianças possivelmente reconhecerá o título acima. No desenho animado, é o lema de garotos que vivem para capturar os pokémons, criaturas de forma e poderes variados, mais de 150 apenas na primeira geração.
A frase tem me ocorrido diante de várias reportagens. No momento, é visível que "temos que pegar" o PT, vitorioso nas eleições municipais.
Há na imprensa quem o faça pela via do susto, lembrando que o PT (como os pokemons) pode "evoluir" (palavra-chave no desenho) para estágios menos moderados que o atual.
Esse não é o estilo da Folha, que gosta de números. No domingo passado, o jornal concluiu que "o sucesso deste ano esconde um fracasso: o partido perdeu 47% dos municípios" que tem hoje.
Conservou, portanto, 53%. "O PT esperava obter índice de reeleição próximo de 80%". Como escrevi na crítica de segunda-feira, cada um é livre para esperar o que quiser, mas, para falar em fracasso, a reportagem tinha de incluir outros percentuais.
Qual foi a taxa geral de reeleição? E a do PFL, PSDB e PMDB? A do PT foi menor ou maior? Tudo o que a matéria trouxe foi uma declaração do próprio partido perdida no meio do texto (os outros teriam mantido "40% de suas prefeituras, em média").
Um leitor disse ter ficado perdido com as tabelas. Registravam que o PT tem 32% das prefeituras do Acre, elegeu sete candidatos na Bahia, nenhum em Roraima etc. "Mas não havia informação que me permitisse comparar."
A Redação explica que não dispunha de dados sobre outros partidos. Está tentando obtê-los para uma próxima reportagem.
Tratou do PT porque ele "foi a principal notícia da campanha". Além disso, o partido tinha uma lista de suas prefeituras.
O esclarecimento indica que o PT caiu na malha fina porque: a) se deu bem na eleição; b) forneceu as informações pedidas.
Apontar contradições, cobrar, guardar distância do entusiasmo militante, tudo isso é função do jornal. Basta que as informações tenham consistência.
A diferença entre o jornalismo pokemon e o desenho animado é que este pode entreter também os adultos. Aquele não engana nem as crianças.


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