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O lixo em dois capítulos
Em junho, a Folha disse o seguinte sobre o recolhimento de
lixo na cidade de São Paulo:
"Atualmente, apenas 1% é reciclado. A prefeitura pretende
aumentar esse número para
20% no segundo semestre, com a
construção de novos centros de
reciclagem e a melhora do sistema de coleta seletiva".
A previsão constou de reportagem do Folhateen a propósito do
Dia Mundial do Meio Ambiente.
Duas semanas depois, foi a vez
de o caderno Equilíbrio demonstrar entusiasmo com o plano municipal:
"A prefeitura promete um
avanço no sistema de coleta seletiva". Isso "depende somente do
término do processo de licitação
para a contratação das empresas
de limpeza pública".
"Hoje são recolhidas 130 toneladas por mês de material reciclável. Com o novo projeto, a estimativa é de 350 toneladas por
dia, cerca de 20% do total de lixo
da cidade".
Decorridos quatro meses, o jornal voltou ao assunto para informar que a promessa resultou em
um programa "que prevê a mistura de materiais orgânicos e
inorgânicos, secos e molhados,
dentro dos caminhões compactadores".
Conclusão da capa de Cotidiano de segunda-feira passada:
"especialistas consultados pela
Folha foram unânimes em considerar a medida inócua, mais
uma peça de marketing de fim de
governo".
Sobre o avanço esperado: "a estimativa é que, se o projeto der
certo, o índice (de lixo reciclado)
aumente, em um primeiro momento, para 2%".
Sobre o processo de contratação de empresas: "a prefeitura
tenta desde 1998 fazer uma licitação para varrição e coleta do
lixo. Em razão de irregularidades, o edital foi anulado em agosto".
Duas coisas a observar no contraste entre o otimismo de junho
e a condenação de outubro.
A primeira é a facilidade com
que se joga fora a regra do "Manual" que manda noticiar projetos oficiais "sempre com senso
crítico".
"Nunca dê como certo que o
plano vai se realizar", ensina o livro que orienta o trabalho da Redação. O jornal faz o contrário
ao omitir qualquer informação
que demonstre a inviabilidade
da promessa.
E olhe que a prefeitura em
questão é a de Celso Pitta. Nada
do que se sabe sobre ela hoje era
desconhecido em junho.
A segunda coisa a observar é
que o distanciamento ausente
das duas primeiras matérias
também faltou, com sinal invertido, à mais recente.
"Pitta põe a mão no lixo para
criar factóide", disse o título de
segunda-feira. Apesar da má impressão imediata, ainda pensei,
ao bater os olhos no enunciado,
que o "põe a mão no lixo" pudesse se referir a algum evento em
que o prefeito fosse participar da
coleta diante das câmeras.
Nada disso. Apenas brincadeira de mau gosto, do tipo que o
jornal só se atreve a fazer com
quem não conta nem representa
mais nada. Grosseria não é crítica, nem é vista pelo leitor como
gesto de coragem.
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