São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2000


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"Dizem ter"

Já que o assunto hoje é pesquisa, vale a pena comentar um dos destaques do caderno especial Problemas de SP, que circulou na quinta-feira. De acordo com o Datafolha, 26% dos eleitores paulistanos dizem ter um parente ou amigo assassinado nos últimos 12 meses (ao lado, o número tal como apareceu na capa do jornal).
Na crítica interna, registrei minha dúvida quanto à formulação apresentada aos entrevistados (enquanto a capa falava em "parente ou amigo", o caderno dizia "conhece alguém", o que não é a mesma coisa).
Seja como for, considerando o universo de eleitores e a taxa de homicídios na cidade de São Paulo, o percentual parece uma impossibilidade estatística. Ainda que dez pessoas conheçam a mesma vítima, que cem pessoas conheçam ou até mais do que isso, basta um cálculo simples para concluir que o resultado está inflado.
Isso não quer dizer que está errado o percentual de entrevistados que fizeram tal afirmação. Ou que eles tenham deliberadamente mentido ao instituto. Ou que não existam razões de sobra para temer a violência.
Significa apenas que a reação das pessoas a esse tipo de pergunta embute uma manifestação de insegurança. Embora legítima, ela por vezes compromete a exatidão da resposta.
Se quiser informar, em vez de apenas produzir alarme, é obrigação do jornal dar destaque a essa ressalva, usando-a para colocar o número em perspectiva. No caso, isso não foi feito.
Daí até alguém alardear que mais de um quarto dos paulistanos tiveram (sem o "dizem") parente ou amigo assassinado no último ano é um pulo.


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