|
Texto Anterior | Índice
O juiz, Gaza e a cadela
"A importância simbólica desse assassinato em que o crime
parece ter vencido e intimidado
a sociedade merece mais do que
um anúncio discreto na primeira página (...) Tal fato violento
não ocorre diariamente em países civilizados onde as máfias
não comandam a sociedade,
exemplos em que o Brasil não
parece mais se incluir."
Esses são trechos de um e-mail
de um leitor médico "entristecido" com a cobertura dada pela
Folha no sábado (15) ao assassinato do juiz Antonio José Machado Dias, de Presidente Prudente (SP), aparentemente a
mando do chamado crime organizado. E ele tem razão.
O caso escandaloso, de impacto
internacional, recebeu na capa
do jornal apenas uma chamada
de uma coluna, à esquerda da
parte inferior da página.
Internamente, na edição nacional, foi editado no pé da capa
de Cotidiano, virando assunto
principal, no alto, apenas na edição SP (fechada às 23h23).
Na Primeira Página, a mudança só veio numa edição ainda mais tardia, encerrada à 1h30
do sábado, com um título maior,
em quatro colunas -ainda assim, embaixo da dobra.
Não foi esse, porém, o único
exemplo da semana em que a
Folha se mostrou pouco sensível
à relevância jornalística de um
assunto -seja pela força do próprio fato, seja por sua simbologia
expressiva.
Na segunda-feira, ao menos
onze palestinos, inclusive uma
menina de quatro anos, foram
mortos na faixa de Gaza em choques entre soldados israelenses e
atiradores palestinos.
O ocorrido, no entanto, passou
longe da capa da edição de terça.
Mais grave: foi registrado apenas
numa nota "Panorâmica" ao pé
de uma página de Mundo.
Episódio mais curioso foi o da
cadela Michelle, na quinta-feira,
quando os principais jornais publicaram a foto da fox terrier de
Lula chegando à Granja do Torto -onde havia uma reunião
ministerial- em veículo oficial
de uso exclusivo em serviço.
A Folha mencionou o fato, registrou que o veículo era de "uso
exclusivo da Presidência", mas
não publicou a expressiva imagem da cadela no carro nem deixou claro ao leitor que poderia
haver, aí, irregularidade.
A foto só saiu na sexta, ilustrando um texto sobre o debate
suscitado por Michelle na Câmara dos Deputados.
Essa timidez contrasta com o
tom abertamente crítico adotado em 1991 quando a mulher do
então ministro do Trabalho e da
Previdência Social, Rogério Magri, foi "flagrada" usando uma
kombi chapa branca para levar
dois cachorros num veterinário.
Em 15 de maio daquele ano, o
caso recebeu espaço na capa da
Folha e foi a manchete interna da nobre página 4.
Não está claro o grau de irregularidade no caso de Michelle.
Mas, no mínimo por seu aspecto
simbólico e pelo inusitado, o discreto tratamento editorial a ele
reservado sugere ter havido,
aqui, um exemplo claro do dito
"dois pesos, duas medidas".
Texto Anterior: Assessor repórter Índice
Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
|