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Regionalismo, proselitismo
Não pretendia tratar de novo
de eleições nesta semana, mas
sinto-me levado a fazê-lo por
causa de dois aspectos dentre os
inúmeros que o noticiário jornalístico sobre o tema envolve.
Pela ordem: regionalismo.
O país tem 26 Estados e o Distrito Federal. Pergunta: como as
disputas para governador nas
outras unidades da federação,
fora SP, foram tratadas no caderno de cobertura das eleições
lançado pela Folha no domingo
passado?
A pão e água, até mesmo na
chamada edição nacional do
jornal. Confira:
Na estréia, domingo, nada.
Segunda-feira, pesquisa Datafolha, apenas para Rio e Minas.
Terça, um texto sobre o RS e
um sobre o Rio, ambos em pé de
página.
Quarta: um "abre" de página
para acusação contra a governadora do Amapá, um texto sobre
o Rio e a seção "Giro pelo país"
com três notinhas -tudo em
apenas meia página, e, ainda,
numa página par, quando se sabe serem tradicionalmente as
ímpares as mais valorizadas.
Nessa edição, registre-se, houve na contracapa um quadro
que resumia os favoritismos das
disputas em todas as unidades,
mas com foco direto na sua relação com a sucessão presidencial
("Ciro tem vantagem em eleições estaduais" era o título).
Quinta-feira: um texto sobre o
PR e cinco notinhas no "Giro pelo país", tudo em 1/4 de página.
Na sexta-feira, apenas um texto, em pé de página, sobre o RS.
E isso foi tudo, com ressalva
para a impugnação da candidatura de Jorge Viana (PT) no Acre
noticiada ontem, fato de repercussão nacional que só pode ter
pego os leitores de surpresa. Ainda assim, além do AC, só três notas havia sobre outros Estados.
Em eleições anteriores, a Folha
conseguia, de certa forma, encobrir o problema com um número
bem maior de pesquisas Datafolha feitas fora de SP. Esse recurso, agora, está desidratado.
O jornal, que se considera de
porte nacional, precisa achar um
modo de honrar essa avaliação.
Ou então -o que seria certamente desastroso-, assumir o
abandono da idéia de uma cobertura nacional das eleições e
ocupar-se apenas das sucessões
ao Planalto e ao Bandeirantes,
oferecendo de vez em quando
pequeninos "giros pelo país".
Colunistas
Recebi cópia de um memorando enviado no início da semana
pela Direção de Redação a todos
os colunistas do jornal.
Pela importância de seu conteúdo, pedi e obtive autorização
para reproduzir a íntegra do comunicado, assinado pelo diretor, Otavio Frias Filho:
"A Folha procura praticar um
jornalismo independente, definido como crítico e apartidário.
Mantém um leque plural de colunistas, empenhada em trazer
ao leitor uma ampla gama de
pontos de vista".
"Dadas as pressões e expectativas normais em período de eleições, sempre existe a possibilidade de colunas assinadas se desviarem de seu caráter de informação e análise para se converterem, eventualmente, em veículos de proselitismo eleitoral".
"Ao mesmo tempo, a Folha
não gostaria de impedir que os
colunistas manifestem seu ponto
de vista também quanto a suas
possíveis preferências eleitorais,
caso considerem tal manifestação imprescindível".
"É por isso que, a exemplo do
que já ocorreu em eleições passadas, solicitamos aos responsáveis
por colunas assinadas a gentileza de se absterem de incorrer em
proselitismo no âmbito desses espaços".
"Textos com esse propósito específico poderão ser publicados
na seção "Tendências/Debates"
da Página Três, tradicional "tribuna livre" mantida pela Folha".
"Eventuais contribuições com
o referido teor de proselitismo
deveriam ser encaminhadas à
Secretaria ou à Direção de Redação do jornal".
Compromisso
Pode ser mera coincidência o
fato de esse comunicado surgir
no momento em que o jornal se
viu obrigado pelo Tribunal Regional Eleitoral paulista a publicar um Direito de Resposta a
uma coluna do caderno Cotidiano, terça-feira passada. Não sei.
De todo modo, ao dar tratamento igual a todos os colunistas
-estancando, em tese, uma situação na qual vários deles se
sentiam à vontade no uso do jornal para fazer pregação eleitoral
mais ou menos velada-, o comunicado implica um compromisso, aqui tornado público.
Ele faz pleno sentido, é bem-vindo, e sua reprodução nesta
coluna não tem uma finalidade
apenas de ordem informativa.
Como acontece com todos os
documentos do gênero, a começar pelo "Manual da Redação",
a vigilância permanente dos leitores será fundamental para que
ele não morra no papel.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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