São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 2004 |
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OMBUDSMAN Próspero 2005!
MARCELO BERABA
4 - Alguns diários voltaram a "cuidar do produto", para usar o jargão dos executivos. É o caso, por exemplo, do "Estado", principal concorrente da Folha, que fez, em outubro, uma ampla reforma gráfica e temática. Ainda é cedo para um balanço do novo projeto, mas tudo indica que tenha sido bem-sucedido. 5 - A Folha, que realizou em julho o maior corte de jornalistas de sua história recente e promoveu o achatamento dos salários da Redação, vive a perspectiva de um ano melhor. As informações que colhi indicam que prevê um alívio financeiro a partir de meados de 2005, se a economia continuar a crescer. Sempre no condicional. O jornal mal respirou em 2004. Seus maiores investimentos foram nas coberturas da Olimpíada da Grécia e das eleições no Brasil (municipais) e nos EUA (presidencial). A impaciência do leitor A situação das empresas jornalísticas está melhor, mas seus problemas estão longe de estarem resolvidos. O equilíbrio precário foi alcançado graças, principalmente, aos violentos cortes de pessoal e de despesas praticados nos últimos anos. A necessária reestruturação das dívidas alivia, mas não reduz a dependência dos bancos. As empresas estarão, em 2005, com um olho no desenvolvimento da economia e outro nos juros. No caso dos jornais, eles perderam poder competitivo no momento em que mais precisavam de forças e recursos para enfrentar a concorrência abundante de novas fontes de informação e a crescente impaciência de leitores diante de edições irregulares. É de se esperar que, com o abrandamento da crise, os jornais percebam com mais clareza que os obstáculos para um novo ciclo de crescimento não estão apenas na economia e na gestão, mas que devem discutir o papel do jornal numa sociedade que vive mutações rápidas e constantes. Que jornal produzir? Não existe resposta fácil. Será um desafio cada vez maior atrair novos leitores, principalmente leitores jovens, indispensáveis para a renovação dos jornais. E será cada vez mais difícil agradar cidadãos saturados de notícias e bombardeados pelos apelos do mercado. O Conselho Federal de Jornalismo tal como foi concebido inicialmente pelos sindicatos de jornalistas está enterrado, mas a discussão que tentou provocar mais cedo ou mais tarde voltará a emergir. A repulsa a qualquer forma de controle estatal não pode abafar a pressão de leitores e de setores da sociedade por informação precisa, boas histórias, equilíbrio e diversidade. E essa pressão se dá principalmente sobre os grandes jornais, como a Folha. O desafio é entender que numa sociedade mais exigente o êxito empresarial estará sujeito ao atendimento dessas expectativas. Um caminho para fugir dos controles dos governos é a auto-regulação. Esse caminho requer um pacto de confiança com a sociedade e com os leitores. Exige mais transparência por parte dos jornais, mais responsabilidade na investigação jornalística, mais compromisso de corrigir os erros, de garantir o direito de resposta e de explicar as decisões editoriais. Portanto, mais diálogo com os leitores. Os jornais querem fidelidade quando deveriam estar pensando em cumplicidade e participação. Para isso, teriam de estar mais abertos e disponíveis. Próximo Texto: Imprensa e sociedade: A auto-regulação é possível? Índice Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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