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A Rússia faz tudo errado
Ao título acima podemos acrescentar: sempre. A Guerra Fria acabou faz tempo, mas é essa a mensagem do noticiário sobre o desastre do submarino Kursk.
Como papagaio, o jornal não se cansa de repetir críticas à "teimosia" e à "falta de transparência" da Rússia, ambas "herdadas da União Soviética" (de quem teríamos herdado as nossas?). Não faz isso sozinho. Apenas acompanha o coro.
Na terça-feira, sob a rubrica "comentário", a Folha reproduziu artigo do diário britânico "The Independent" em que a Rússia era aconselhada a "ser mais aberta e confiar mais".
"Se o Kremlin tivesse sido menos desconfiado", dizia o texto, "talvez alguns tripulantes ainda estivessem vivos". Isso quando já se considerava grande a probabilidade de que todos tenham morrido na (ou logo depois da) explosão que levou o Kursk para o fundo do mar de Barents no dia 11 passado.
Na sexta-feira, o jornal trouxe matéria em que os mergulhadores noruegueses, participantes do resgate, culpavam a Marinha russa por tudo e mais um pouco. Nem uma linha de "outro lado".
Dependente das agências internacionais de notícias, a editoria de Mundo sente-se ainda mais à vontade do que as outras para publicar textos desprovidos de elemento contraditório.
Não se trata de ignorar os silêncios, contradições e desmentidos oficiais que cercaram o episódio, mas apenas de notar que ninguém parece interessado em analisá-lo sob outros aspectos, embora eles certamente existam.
Na terça-feira, artigo no "Wall Street Journal" defendeu a tese de que, por uma série de motivos técnicos, os EUA dificilmente teriam sido mais ágeis do que a Marinha russa na operação.
Não se pode acusar o "WSJ" de nutrir simpatia por qualquer "herança da União Soviética". O jornal apenas busca oferecer ao leitor algo além do refrão.
O discurso único não poderia ir mais longe. Chegou às profundezas do Ártico.
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