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Atenção e vigilância
A Folha e o "Estado de S. Paulo" anunciaram em suas respectivas edições, na sexta-feira, a
constituição de uma empresa
que ficará encarregada da distribuição conjunta dos exemplares
dos jornais desses dois grupos em
bancas e aos assinantes.
Para quem começou a ler jornal nos últimos anos, quando
tantas fusões se deram nos meios
de comunicação, tal entrelaçamento pode parecer natural.
Para quem julga conhecer o
mercado de jornais paulista há
pelo menos cinco anos, eis uma
notícia bombástica.
Mesmo limitando a iniciativa
ao elo posterior à cadeia de produção, são rivais históricos que
se unem após violentas disputas,
em especial no terreno comercial. Nenhuma desconfiança ou
reticência devem surpreender.
Os grupos alertam que se trata
apenas de um acordo para viabilizar uma distribuição mais
barata e de melhor qualidade.
Nada deverá ser afetado no conteúdo editorial, afirmam.
"O essencial é a redução de
custos que a operação trará,
num ambiente econômico preocupante para os jornais", disse-me Otavio Frias Filho, diretor de
Redação da Folha.
A rigor, joint ventures como essa -que levará o nome de
S.Paulo Distribuição e Logística
Ltda.- já ocorreram em outros
países, em especial nos EUA, indo além, inclusive, da distribuição, sem quebrar a autonomia
editorial de cada órgão.
Na prática, daqui a alguns meses, os dois jornais concorrentes
chegarão juntos às bancas ou
aos assinantes.
Qualidade editorial
A consequência mais plausível,
no que diz respeito aos leitores e
aos jornalistas, é que a qualidade editorial ganhará maior peso
na escolha.
Embora de início possa haver a
impressão de que com esse acordo a sociedade perderia potencialmente em diversidade de informação, o mais provável -e
desejável- é que se acirre a concorrência entre as Redações.
Não mais contaria o horário
de chegada em casa ou à banca.
O leitor optaria, sempre, pelo jornal que considerasse melhor, de
seu agrado.
Não há como negar, por outro
lado, que essa associação até há
pouco impensável visa a posicionar melhor os dois grupos em
termos concorrenciais mais amplos, haja vista a entrada agressiva das Organizações Globo no
mercado de jornais paulista
(mas não apenas neste), em especial com a compra do "Diário
Popular" e sua transformação
em "Diário de S.Paulo".
Como tal união afetará -ou
não- o casamento entre Folha
e Globo no jornal "Valor Econômico" é outra questão, que só a
prática poderá responder.
Diferenças
Os leitores devem ficar vigilantes. Se ocorrerem, por exemplo,
notícias sobre o Universo Online
(ligado à Folha), será essencial
verificar se o concorrente dará a
cobertura adequada, crítica se
preciso for.
O mesmo vale para a Folha se
houver fatos relacionados à operadora BCP, da qual o grupo Estado participa.
Mas a atenção não deve parar
aí. Se os leitores começarem a
notar redução significativa nas
diferenças entre os dois jornais,
por exemplo, alguma coisa terá
dado errado.
Em contrapartida, caso ambos, como se anunciou, mantenham a independência editorial,
estimulando, até, a disputa jornalística saudável, seus leitores,
com a nova distribuição, poderão ganhar.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
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