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Detalhes
Virei pequeno personagem de
notícia na Folha, semana passada, e fui vítima, como ocorre com
outras fontes, de um equívoco.
Se relato o caso, não é só para
esclarecer a leitores que me pediram que o fizesse, mas também
para ilustrar os riscos que o jornal corre de cometer injustiças
quando informações lhe são dadas apenas por telefone -prática infelizmente bastante comum.
Na crítica interna de segunda-feira, comentei o uso do advérbio
"ainda" numa frase da reportagem "Procurador suíço confirma
investigação sobre Maluf", publicada domingo (veja ao lado).
Não se tratava de um problema gramatical, mas sim político,
editorial: o "ainda", na minha
visão, embutia uma espécie de
"desejo" (escrevi assim, com aspas) de que o ex-prefeito seja formalmente acusado, quando um
texto jornalístico tem de procurar, sempre, a máxima objetividade. Outra formulação cabia
ali, sem dificuldade.
Queria apenas chamar a atenção para um detalhe -e muita
coisa, num texto, pode ser definida nos detalhes.
A assessoria de Maluf usou o
comentário em nota publicada
na terça-feira, citando-o literalmente, mas acrescentando, ao final, a formulação "...de uma coisa que ele nunca fez".
Conforme apurei, a nota foi
transmitida à Redação pelo telefone, na correria, às 19h30 da segunda-feira.
Na hora, nenhum dos interlocutores parece ter-se preocupado
em fazer a distinção clara entre
aquele complemento externo e o
que eu de fato havia escrito. Para
tanto, bastava colocar entre aspas a frase toda que eu redigira,
não só a palavra "desejo".
O ombudsman, então, apareceu como tendo feito uma afirmação incisiva (inocentando
Maluf) que ele não redigira nem
pode afiançar.
Não é a primeira vez que observações de um ombudsman da
Folha são usadas por terceiros
para atacar o próprio jornal. Faz
parte do jogo.
Se outras vierem, que seja, ao
menos, de forma fiel, sem se colocar na "boca" da fonte aquilo que
ela não afirmou.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
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