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Editoriais Antes tarde que nunca Divulgação do programa de Serra e debate com Haddad na TV enfim permitem uma comparação menos superficial de suas propostas Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB) parecem enfim ter-se dado conta do óbvio: o que São Paulo espera dos candidatos são propostas para resolver os problemas da cidade, e não o bate-boca que predominou na campanha. No debate promovido quinta-feira pela TV Bandeirantes, esteve visível algum esforço de ambos para apresentar detalhes de compromissos eleitorais. Mesmo assim predominaram as acusações e o fraseado genérico dos publicitários. Haddad e Serra têm, no entanto, algumas ideias para São Paulo. Os respectivos programas de governo são documentos que coincidem na maioria dos diagnósticos, mas oferecem estratégias distintas de solução. O plano de Haddad, de agosto, tem 125 páginas e 728 propostas. O de Serra, apresentado segunda-feira, abrange 72 páginas e 239 propostas. O nível de detalhes do programa petista pode ser maior, mas ambos pecam pelo baixo índice de metas mensuráveis e pela parca referência a custos. Qualquer cidade brasileira tem de ser administrada sob a lógica do cobertor curto. Sem poder ponderar quanto cada candidato pretende investir em seus projetos, o eleitor tem menos condições de avaliar os planos. Eis aqui um elenco sucinto de necessidades em áreas prioritárias da administração: Transportes/trânsito - Congestionamentos figuram entre os maiores problemas de São Paulo. Haddad e Serra, corretamente, dizem que uma das causas é o fato de a cidade ter se espraiado demais. Faz sentido, como propõem, estimular novos polos de desenvolvimento para desafogar regiões centrais -onde estão metade dos empregos e 12% dos habitantes. Além disso, é crucial investir em transporte público de qualidade. A melhor solução são os corredores de ônibus, que podem ser construídos em menos tempo e a um custo mais baixo que linhas de metrô. Tanto Haddad quanto Serra prometem investir nos dois modais, mas a ênfase do petista são os ônibus, e a do tucano, o metrô. O candidato do PT, porém, não explicou de onde tirará dinheiro para subsidiar o Bilhete Único Mensal, uma de suas principais bandeiras. Educação - Os dois maiores nós são as filas nas creches (deficit de 145 mil vagas) e a qualidade precária do ensino fundamental (até o nono ano). Os dois candidatos prometem enfrentar ambos os problemas, embora não seja claro como pretendem executar as propostas. Em vez de avançarem nessas questões, Haddad e Serra recorrem a iniciativas acessórias, como ensino técnico -que não é prioridade da prefeitura-, ou desejáveis mas discutíveis do ponto de vista do custo, como a jornada integral. O prefeito deveria, ainda, tirar melhor proveito das avaliações e garantir maior autonomia para diretores de escolas -duas medidas de baixo custo e alta eficácia. Saúde - Carência de médicos e especialistas, dificuldade para marcar exames, demora em atendimentos e falta de comunicação entre as diversas portas de entrada no sistema são deficiências que tornam a saúde a área mais mal avaliada. Haddad e Serra dedicam boa parte das promessas ao setor, mas com algumas divergências. O petista é ambíguo em seu programa quanto a abandonar o modelo das organizações sociais (OS), pelo qual entidades privadas recebem dinheiro da prefeitura e gerenciam equipamentos municipais de saúde. Em entrevistas, Haddad tem negado a intenção, mas afirma que vai submeter a contratação de funcionários a concursos públicos -o que anularia muitos ganhos de eficiência das OS. Serra não aborda o tema diretamente, mas já deixou claro que manterá o modelo atual. Há críticas à atuação das OS por exemplo, fiscalização insuficiente-, mas parece inegável que elas acrescentam agilidade a um serviço essencial para a população. As OS não têm como resolver, porém, a desorganização estrutural da saúde municipal. Os diversos níveis de atendimento (básico, emergencial, hospitalar) não conversam entre si. Essa é uma questão central que Serra aborda de forma superficial, enquanto Haddad propõe medidas mais concretas. Gestão - Do ponto de vista administrativo, há duas questões urgentes e consensuais. A primeira é renegociar a dívida da prefeitura com a União, que implica repasses anuais de quase 10% do Orçamento municipal. A segunda é reduzir o custeio da máquina. Um terceiro ponto crucial, entretanto, consta só do programa petista: a descentralização da administração, com recuperação do papel original das subprefeituras. Uma cidade com as dimensões de São Paulo precisa distribuir a gestão e o acompanhamento de necessidades específicas de cada região. Haddad, candidato de oposição ao prefeito Gilberto Kassab (PSD), promete mudanças substanciais nas políticas, como para a saúde, mas soa enganoso com seu propagandístico Arco do Futuro, que rebatiza ações já previstas pela atual administração. Serra, de quem Kassab foi vice, torna-se refém dos projetos de seu afilhado. Por outro lado, o tucano não precisa se preocupar com restrições ideológicas a parcerias privadas, como ocorre com o partido de seu adversário. Apesar das deficiências de cada programa, o eleitor ganha um pouco mais de condições para escolher o próximo prefeito, levando em conta não só os ataques de um candidato a outro, mas o que lhe parecer mais capaz de tornar São Paulo uma cidade melhor. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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