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Opinião

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Pílula dourada

As tentativas de setores da indústria farmacêutica de favorecer seus produtos distorcendo resultados de estudos científicos não apenas configura uma maneira pouco ética de conquistar mercado como também compromete as fundações da pesquisa médica. A ciência, como se sabe, avança quando a informação circula livremente.

Um artigo de revisão publicado pela rede Cochrane (organização especializada nessas investigações comparativas) reuniu 48 artigos que avaliavam resultados de milhares de estudos da indústria farmacêutica e concluiu que eles nem sempre merecem confiança.

Os pesquisadores, ligados ao Hospital Nacional da Dinamarca, afirmam que artigos encomendados pelos laboratórios apresentam um viés favorável ao produto analisado com uma frequência significativamente maior do que trabalhos similares que não contam com o patrocínio da indústria.

Uma das formas mais comuns de pintar um quadro favorável à droga testada é fazer afirmações sobre sua eficácia que não são amparadas pelos dados. Outros recorrem à via negativa, menosprezando os efeitos indesejáveis do fármaco.

Por vezes, a intenção de manipular resultados pode ser observada até no desenho da pesquisa. Segundo o artigo de revisão, alguns trabalhos comparam o produto avaliado com uma droga antiga, que já não é o tratamento padrão, ou com subdoses do fármaco de referência, de modo a vitaminar o desempenho do produto novo.

Outro truque é simplesmente não publicar os resultados desfavoráveis. Essa é uma prática comum no segmento dos antidepressivos.

Não é demais insistir que essas atitudes configuram uma espécie de fraude, já que tanto médicos como pacientes são levados a acreditar num perfil de eficácia que não existe.

E não se trata, nesses casos, de publicidade, onde dourar a pílula faz parte do jogo. São trabalhos científicos, nos quais, vale lembrar, cada afirmação teria de estar amplamente documentada.

Como sustentam os autores da revisão, é preciso insistir em medidas que reduzam essa distorção. Em primeiro lugar, as autoridades reguladoras devem exigir que os laboratórios publiquem todas as pesquisas que patrocinam -inclusive aquelas que chegam a resultados desfavoráveis.

Para melhorar a qualidade dos ensaios clínicos, o ideal seria que os estudos fossem, na medida do possível, conduzidos por pesquisadores independentes. Mais do que ações de empresas, é a saúde das pessoas que está em jogo.


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