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CLÓVIS ROSSI
De bicicleta
PARIS - O casalzinho, bem jovem,
deixa o hotel, a passos da avenue
Montaigne, que é talvez a maior
concentração por metro quadrado
de grifes de luxo do planeta, quase
todas de preços que dão até medo
de olhar, quanto mais de entrar.
Imagino que o casal vai subir a algum Mercedes. Talvez uma limusine, até porque, horas antes, uma interminável limusine branca, enfeitada com flores de laranjeira, havia
deixado uma noiva na mesma rua, à
porta da igreja de Nossa Senhora da
Consolação.
Nada disso. Cada um monta em
uma bicicleta, duas das 15 mil que a
Prefeitura de Paris espalhou por
1.200 estações em toda a cidade, para alugar (a primeira meia hora é
grátis).
O sistema chama-se "vélib", está
em operação desde meados do ano
passado e fez com que o uso de bicicletas (as próprias e as alugadas pela prefeitura) aumentasse 68% no
quatro trimestre de 2007, na comparação com idêntico período do
ano anterior.
Não é que o "vélib" me surpreenda. Passava um período em Paris
justamente quando as estações estavam sendo construídas.
O que surpreende é que seja usado na área em torno da avenue
Montaigne, que é o equivalente aos
Jardins em São Paulo. Não consigo
imaginar que algum casal hospedado ou residente nos Jardins saia para passear de bicicleta. De moto,
ainda vá lá. Mas, mais provavelmente, de helicóptero.
Não encontrei dados sobre melhoria no trânsito a partir da introdução do sistema. No "olhômetro",
parece igual ao do período prévio ao
"vélib". Há congestionamentos,
mas nada que se aproxime do que se
vive nos últimos muitos anos em
São Paulo.
É um modelo copiável? Do ponto
de vista ambiental, parece interessante. Mas você acha que São Paulo
é suficientemente civilizada para
que carros e motos não atropelem
os ciclistas?
crossi@uol.com.br
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