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ANTONIO DELFIM NETTO
Câmbio e
Confúcio
VAMOS HOJE tentar responder a duas interessantes
questões colocadas por um
leitor, com referência a um artigo
anterior: 1ª) como uma "super" valorização cambial passageira pode
levar à destruição de um setor até
então competitivo?; e 2ª) como a
poupança pode preceder o investimento?
Com relação à primeira é preciso
considerar que a "competitividade" internacional de um setor depende de dois fatores: 1º) de sua
produtividade física interna, que é
associada ao seu nível tecnológico
e à dimensão do seu mercado; e 2º)
das condições macroeconômicas
em que está imerso (política econômica e qualidade da infra-estrutura). A atualização tecnológica é
muito rápida (talvez menos de três
anos), o que significa que, quando
os lucros decrescem (pela "super"
valorização cambial) e o custo de
capital de terceiros cresce (pelo aumento da taxa de juro real que sustenta a "super" valorização), torna-se mais difícil a sua concretização.
Por outro lado, a "super" valorização não reduz apenas a sua exportação ("competitividade externa"), mas permite à concorrência
disputar-lhe o mercado interno.
Esse movimento (que não tem nada a ver com as "vantagens comparativas") produz dois efeitos: 1º)
atrasa a capacidade de atualização
tecnológica (pela falta de lucro) e
aumenta o custo médio do produto
(pela redução da escala de produção), arruinando sua capacidade de
recuperação. É assim que, com um
período de "super" valorização da
relação salário/câmbio, destroem-se setores reais eficientes e acumulam-se déficits em conta corrente
que, lentamente, tornam o passivo
externo líquido não sustentável.
Quanto à segunda questão, devemos considerar que 2/3 do financiamento dos novos investimentos
nas empresas é feito com recursos
internos (aumento da taxa de lucro), ou seja, com a "poupança"
acumulada depois que a produção
encontrou sua realização (demanda!). Em lugar de continuar crendo
em lorotas bem construídas por
uma ideologia hegemônica -que
como outras no passado- pretende-se "ciência", quem tiver interesse no assunto não deve deixar de
ler o artigo "Rebalancing China's
Growth", de Bert Hofman e Loius
Kuijs, publicado no excelente volume "Debating China's Exchange
Rate Policy" (2008). Vai entender
as causas das variações e do crescimento da invejável "poupança" da
China, a quem se atribui o seu crescimento virtuoso. Verificará que
ela é, basicamente, resultado da espantosa taxa de lucro da própria indústria e não da filosofia de Confúcio...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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