São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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ANTONIO DELFIM NETTO

A nova conjuntura

A VOLTA DO "espírito de crescimento" ao Brasil foi extremamente tardia.
Em 1983, fomos o primeiro país a sair da crise que se abateu sobre o mundo depois que os produtores de petróleo controlaram a sua oferta (com imensa capacidade ociosa disponível) e levaram os países dependentes de sua importação à insolvência externa. Em 1984/85, já havíamos voltado a crescer à taxa de 6,6% ao ano, com equilíbrio em conta corrente, mas com uma trágica taxa de inflação média de 210% ao ano.
Lamentavelmente, o Brasil, que foi o primeiro a eliminar o seu déficit em conta corrente, foi o último a negociar a dívida externa. Só o fez em 1994 -por obra do ilustre ministro Pedro Malan. Entre 1985 e 2006, as instituições brasileiras melhoraram muito. Na economia, depois do Plano Real, a taxa de inflação média foi de 8,3% ao ano, mas, infelizmente, o crescimento do PIB foi medíocre: 2,7% ao ano, menos de 1,4% "per capita".
Acumulamos um déficit em conta corrente de US$ 187 bilhões entre 1995-2002 e, depois de um breve superávit de US$ 44 bilhões em 2003-2007, produzido por excepcional conjuntura externa, estamos mergulhando outra vez em inquietantes déficits. O que se perdeu naqueles 12 anos foi o "espírito do crescimento", esquecido na receita importante e necessária de "estabilizar, privatizar e liberalizar", como se esta fosse suficiente para produzi-lo por gravidade.
O segundo mandato do presidente Lula teve a virtude de recuperá-lo, com o PAC. O crescimento médio em 2007/08 será da ordem de 5%, e a inflação média será em torno de 5,5%. O que serão 2009 e 2010 dependerá muito da conjuntura externa, que sofre uma mudança radical, e das respostas de nossas políticas fiscal e monetária. É muito perigoso supor que estamos plenamente blindados, mesmo com o nível atual de reserva de divisas internacionais e com as esperanças do petróleo do pré-sal. Um dos muitos problemas ainda não resolvidos é a suposta necessidade de termos a maior taxa de juros real do mundo, que limita a ação de nossa política monetária.
A grande lição que devemos tirar do comportamento recente dos países diante da inflação planetária (e revelado em Doha) é que todos estão procurando as três autonomias desejadas pelas sociedades desde que o mundo é mundo: a alimentar, a energética e, quando possível, a militar. Para cumprir esse objetivo, eles têm muito pouca consideração com as sugestões da "teoria econômica" e ignoram os preços "certos" dos economistas.

contatodelfimnetto@uol.com.br

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.



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