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ANTONIO DELFIM NETTO
A nova conjuntura
A VOLTA DO "espírito de crescimento" ao Brasil foi extremamente tardia.
Em 1983, fomos o primeiro país a
sair da crise que se abateu sobre o
mundo depois que os produtores
de petróleo controlaram a sua oferta (com imensa capacidade ociosa
disponível) e levaram os países dependentes de sua importação à insolvência externa. Em 1984/85, já
havíamos voltado a crescer à taxa
de 6,6% ao ano, com equilíbrio em
conta corrente, mas com uma trágica taxa de inflação média de
210% ao ano.
Lamentavelmente, o Brasil, que
foi o primeiro a eliminar o seu déficit em conta corrente, foi o último a
negociar a dívida externa. Só o fez
em 1994 -por obra do ilustre ministro Pedro Malan. Entre 1985 e
2006, as instituições brasileiras
melhoraram muito. Na economia,
depois do Plano Real, a taxa de inflação média foi de 8,3% ao ano,
mas, infelizmente, o crescimento
do PIB foi medíocre: 2,7% ao ano,
menos de 1,4% "per capita".
Acumulamos um déficit em conta corrente de US$ 187 bilhões entre 1995-2002 e, depois de um breve superávit de US$ 44 bilhões em
2003-2007, produzido por excepcional conjuntura externa, estamos mergulhando outra vez em inquietantes déficits.
O que se perdeu naqueles 12 anos
foi o "espírito do crescimento",
esquecido na receita importante e
necessária de "estabilizar, privatizar e liberalizar", como se esta fosse suficiente para produzi-lo por
gravidade.
O segundo mandato do presidente Lula teve a virtude de recuperá-lo, com o PAC. O crescimento
médio em 2007/08 será da ordem
de 5%, e a inflação média será em
torno de 5,5%. O que serão 2009 e
2010 dependerá muito da conjuntura externa, que sofre uma mudança radical, e das respostas de
nossas políticas fiscal e monetária.
É muito perigoso supor que estamos plenamente blindados, mesmo com o nível atual de reserva de
divisas internacionais e com as esperanças do petróleo do pré-sal.
Um dos muitos problemas ainda
não resolvidos é a suposta necessidade de termos a maior taxa de juros real do mundo, que limita a
ação de nossa política monetária.
A grande lição que devemos tirar
do comportamento recente dos
países diante da inflação planetária
(e revelado em Doha) é que todos
estão procurando as três autonomias desejadas pelas sociedades
desde que o mundo é mundo: a alimentar, a energética e, quando
possível, a militar. Para cumprir
esse objetivo, eles têm muito pouca
consideração com as sugestões da
"teoria econômica" e ignoram os
preços "certos" dos economistas.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
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