São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Facultativo
"Cumprimento a Folha pela lembrança do tema do voto facultativo. É uma violência sermos obrigado a votar em um sistema eleitoral tão falho e inseguro, pois utiliza urnas eletrônicas sem qualquer comprovação do voto. A insegurança começa no cadastramento (títulos sem foto), continua no possível desvio dos votos na urna e na fácil identificação do voto dado (o eleitor fornece o número de seu título) e termina na contagem final (de dificílima comprovação pelos partidos). As alardeadas cerimônias do TSE, inclusive a votação paralela, são apenas atos formais, sem nenhum significado, pois essa urna não passa nos mais simples testes de segurança de dados. Por que sou obrigado a votar por meio de um sistema que para mim não tem nenhuma credibilidade?"
Walter Del Picchia, professor titular da Escola Politécnica da USP (Vinhedo, SP)

Filhos
"A demógrafa Carmen Miró, em entrevista concedida a esta Folha (Cotidiano, 27/9), mostrou que nem sempre décadas de estudo sobre o mesmo tema garantem opiniões coerentes e sensatas. Ela afirma que o crescimento populacional na América Latina não contribuiu para a pobreza da região, dando como indício o fato de que ultimamente as taxas de natalidade têm diminuído na maioria dos países da região, mas a pobreza continua a imperar. Mas a premiada demógrafa se esqueceu de dizer que as taxas de natalidade diminuíram principalmente nas classes mais abastadas, que, por terem recebido educação e suporte familiar, planejam o número de filhos que vão ter. As classes miseráveis continuam a perpetuar e a reforçar a pobreza tendo diversos filhos, mas sem ter condições mínimas para garantir dignidade e sustento para todos."
Davi Rezende (Ribeirão Preto, SP)

Iraque
"Discordo do comentário do leitor Júlio Dias Gaspar ("Painel do Leitor", 30/9), que quer tirar a responsabilidade da soldado Lynndie England sobre os acontecimentos no Iraque. Nada justifica os atos vis que ela praticou naquela prisão -nem a manipulação feita pela mídia, nem os generais, nem Bush... E o seu livre-arbítrio? E o seu senso crítico? E o seu respeito pelo ser humano? Seria preferível ela ser expulsa do Exército por não cumprir ordens do que compactuar com o que houve naquela prisão."
Magali Marques (Guarulhos, SP)

Tabaco
"Duvido que alguém vá defender o senhor Hainsi Gralow por seu artigo de 27/9 ("Controle do tabaco, sim. Erradicação, não", "Tendências/Debates'). Então vamos lá. Comecei a fumar aos 16 anos e fumei durante 35. Parei há 20 anos, ganhei 14 kg e prefiro ser gordo a ser fumante. Odeio fumo. Mas isso não tem nada a ver com proibição. Isso nunca deu certo. Alguém se lembra da Lei Seca nos EUA? Da intervenção dos EUA na Colômbia e na Bolívia? Do aumento da produção de ópio no Afeganistão depois de invasão dos EUA? Alguém sabe no que deu o jogo do bingo no Brasil depois das tristes indecisões do nosso governo? Agora, quando países ditos civilizados querem legalizar as drogas, surgem propostas de proibir o plantio de tabaco! Podemos ter uma certeza: se o Brasil deixar de exportar, os agricultores norte-americanos vão agradecer."
Milan Trsic (São Carlos, SP)

Dinheiro fora
"Em entrevista a jornalistas, o presidente da República, justificando a elevação do superávit primário (em torno de R$ 4 bilhões), teve a desfaçatez de afirmar que, em vez de "jogar dinheiro fora", ele preferia amortizar a dívida pública ("Lula se desculpa por pedir votos para reeleger Marta", Brasil, pág. A4, 24/9). Todos os brasileiros minimamente informados sabem que a dívida do Brasil é impagável, pois cresce quase em progressão geométrica devido aos juros estratosféricos que favorecem a especulação financeira. O "jogar dinheiro fora", na declaração do presidente, seria: investir em educação, saúde, salários, estradas etc. -a Justiça já deveria ter interditado as estradas federais, verdadeiros atentados à vida dos cidadãos. A sociedade brasileira em seu conjunto (mídia, sindicados, igrejas, entidades de classe etc.) deveria mobilizar-se e denunciar a transferência imoral do patrimônio público para os agiotas nacionais e internacionais."
Silvino Alves de Carvalho professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

Privatizar
"A privatização dos serviços públicos deveria estender-se a vários outros setores, e não somente aos serviços cartoriais forenses, conforme a excelente sugestão de Ari Pires de Aguiar ("Painel do Leitor", 27/9). O fim da vitaliciedade, o mérito decorrente do desempenho e a racionalização dos métodos de trabalho, por certo contribuiriam para a desburocratização e para a conseqüente redução dos gastos com a manutenção de um serviço público que ainda deixa muito a desejar."
José Claudio Curioni (São Paulo, SP)

Enem
"A Folha, no editorial "A redação do poder" (Opinião, 5/9), ao afirmar que o governo orientou "o conteúdo político de uma atividade escolar", desconsidera o fato de que o tema da redação do Enem foi definido no dia 5 de julho, portanto antes do início da polêmica sobre o Conselho Federal de Jornalismo. O tema em questão, ao lado de outros, foi proposto por uma banca de especialistas sem vínculo com o Inep, e sua escolha coube a essa mesma banca, que trabalha desde 1998 na formulação do exame. Os subsídios apresentados aos participantes abordaram diferentes pontos de vista para a produção do texto. A Folha, ao afirmar que se tratava de "uma receita de bolo que, com certeza, gerou milhares de redações semelhantes entre si e involuntariamente parecidas com os discursos emanados do Planalto", atribui aos concluintes do ensino médio uma total falta de senso crítico. É de esperar que os alunos de escolas públicas e privadas conheçam diferentes visões de um tema e produzam uma redação com as suas próprias conclusões. Por último, a Folha diz que o tema da redação transgrediu um imperativo ético e político: o respeito à autonomia pedagógica do processo de ensino. Ao contrário do afirmado, todas as ações do Ministério da Educação têm se pautado no diálogo constante com a sociedade. Ao falar em cerceamento pedagógico das escolas, o editorial também desconhece que o governo federal não tem rede de ensino. Os gestores dos sistemas de ensino são os Estados e os municípios, e cabe a eles dar as orientações pedagógicas."
Dulcídio Siqueira Neto, assessor de imprensa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação (Brasília, DF)

Ato médico
"Desconfio que o senhor Contardo Calligaris possa estar advogando em causa própria ao se posicionar contra a lei do ato médico ("Controlar e regulamentar", Ilustrada, 23/9). A acusação de corporativismo feita aos médicos pode estar encobrindo o corporativismo dos "sem-regulamentação". Pois saiba o leitor que a psicanálise no Brasil não é profissão regulamentada e, legalmente, qualquer cidadão pode colocar uma placa de psicanalista à sua porta sem que ninguém possa acusá-lo de charlatanismo. Os psicanalistas sabem disso, mas não dizem para ninguém, pois sabem que, se um dia essa profissão for minimamente regulamentada, temem que seja atribuída exclusividade a uma ou a outra classe profissional -médico, psicólogo, filósofo e inúmeros outros que hoje já atuam como psicanalistas. Para cada profissional brilhante como o senhor Calligaris, existem centenas de "psicanalistas" invasores despreparados. É isso que não queremos na medicina."
Carlos A. G. Bijos, médico oftalmologista (São José dos Campos, SP)

Resposta do colunista Contardo Calligaris - A Itália é o único país que conheço em que foi instituída uma regulamentação da psicoterapia (e portanto da psicanálise como forma de psicoterapia). O legislador concluiu que ninguém é autorizado a ser psicoterapeuta por ser médico, psiquiatra ou psicólogo. Para ser psicoterapeuta, é preciso ser reconhecido por uma das numerosas e variadas instituições privadas que formam os psicoterapeutas.


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