São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
TENDÊNCIAS/DEBATES Das parcerias entre Brasil e União Europeia JOSÉ MANUEL DURÃO BARROSO
Desde 2004, ano de início do meu primeiro mandato à frente da Comissão Europeia, tenho me empenhado fortemente no desenvolvimento de uma parceria estratégica entre a União Europeia e o Brasil. Acredito que europeus e brasileiros têm como vocação construir juntos um futuro melhor para o mundo. Na cúpula de amanhã, aprofundaremos a cooperação bilateral, com a assinatura do novo Plano de Ação de Parceria Estratégica, a ser implantado até 2014. Um plano ambicioso, que inclui as áreas econômicas, tecnológicas, ambientais e sociais, bem como a colaboração entre as sociedades civis dos dois lados. O encontro ocorre num contexto em que a Europa enfrenta grandes desafios. A solução é mais e melhor Europa. Posso também garantir que os líderes europeus estão determinados a resolver a situação. Vamos fazê-lo assumindo a responsabilidade que temos perante os nossos cidadãos e a economia global, dado que a União Europeia constitui o maior bloco econômico e comercial. A história da construção europeia demonstra que, quanto maior é a crise, mais ambiciosos serão os passos daquela. Como afirmei no discurso do Estado da União perante o Parlamento Europeu, a União deve aprofundar a governança da zona do euro para garantir a estabilidade monetária e orçamentária e o crescimento das economias europeias. Fiz propostas nesse sentido e estou convencido de que nenhum país abandonará o euro e de que a União sairá da atual crise mais forte e coesa. Na nossa cúpula, procuraremos ainda conciliar posições em relação às grandes questões da governança global, a saber, as relações econômicas, a luta contra as alterações climáticas, as questões energéticas e a segurança internacional, notadamente a situação atual no Oriente Médio. A cooperação estratégica entre a União Europeia e o Brasil é benéfica para a governança global. Somos dois parceiros que privilegiam as instituições internacionais e as regras multilaterais. O mundo multipolar será demasiado imprevisível e perigoso sem a existência de mecanismos normativos eficazes. Nós, na Europa, pagamos um preço demasiado alto pelo descontrole das relações multipolares durante a primeira metade do século 20. A nossa experiência nos dá o direito e o dever de alertar para os perigos inerentes a relações internacionais determinadas mais pela lógica da força do que do direito. A ordem multipolar só alcançará estabilidade se for igualmente multilateral. A distribuição de poder entre as potências tradicionais e as emergentes será um dos maiores desafios dos próximos anos. A arquitetura institucional global deve refletir as novas realidades geopolíticas, sob pena de perder legitimidade. Deveremos trabalhar em conjunto para reformar as Nações Unidas e as instituições da conferência de Bretton Woods (1944), além de fortalecer o G-20. Mas o papel global do Brasil é igualmente fruto da consolidação da sua democracia, uma das maiores do mundo. O país constitui hoje uma referência para todos aqueles que defendem o valor sagrado da liberdade. Saúdo a importância da defesa dos direitos humanos na ação política da presidenta Dilma. Os líderes que experimentaram as injustiças de um poder arbitrário e violento sabem como ninguém a importância da defesa dos direitos humanos. E a experiência, que leva um político da prisão de uma ditadura ao poder de uma democracia, inspira todos aqueles que lutam pelos direitos a que todo o ser humano aspira. Estou convencido de que, pela partilha de valores universais e de uma visão da política externa assentada sobre a cooperação multilateral, o Brasil e a União Europeia darão uma contribuição fundamental para uma ordem global mais justa e democrática. JOSÉ MANUEL DURÃO BARROSO é presidente da Comissão Europeia Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: Aécio Neves: Responsabilidade Próximo Texto: Newton Lima e Luiza Erundina: Privacidade e regulamentação da internet Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |