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ESPETÁCULO POLÍTICO
A proximidade das eleições
municipais traz de volta à cena
o espetáculo da política. É chegada a
hora dos rostos sorridentes, das promessas, das meias-verdades e das
tergiversações. É tempo de vender
ilusões e receber votos.
No governo federal, reúnem-se os
luminares do petismo para elaborar
uma cartilha na qual se listam truques retóricos e estatísticos para
mostrar ao eleitor a "mudança" que
sozinho ele ainda não conseguiu divisar. Com base no referido manual,
os próprios candidatos petistas ou
aliados do governo terão a chance de
dirimir suas dúvidas e defender, supostamente de maneira mais eficaz,
as realizações da atual gestão.
Não importa se a defesa baseia-se
em artifícios de linguagem ou números parciais. O fundamental para o
político é parecer convincente, mesmo que se equilibre em situações duvidosas, como são algumas alianças
que vêm sendo costuradas para as
eleições. Quanto a isso, em termos
de "heterodoxia" não se economiza,
como demonstra bem o caso de São
Paulo, onde o eleitor assiste a uma
seqüência de entendimentos que fere
qualquer princípio de coerência política e desvela o caráter oportunista e
circunstancial das coligações.
Não há, de fato, como evitar o
constrangimento provocado pela
notícia de que a ex-prefeita Luiza
Erundina (PSB-SP) e o deputado Michel Temer, do PMDB de Orestes
Quércia, formaram uma única chapa
para concorrer ao pleito. Quércia e
Erundina têm diferenças substanciais. Quando o cacique peemedebista era governador do Estado de São
Paulo e Erundina, então no PT, prefeita da capital, eram freqüentes as
trocas de farpas entre os dois.
Igualmente embaraçosa é a coligação que reúne o petebista Roberto
Jefferson e Levy Fidélix (PRTB-SP)
em torno da atual prefeita de São
Paulo, Marta Suplicy. Jefferson e Fidélix foram aliados -em momentos
distintos- do ex-presidente Fernando Collor de Mello, notório adversário político dos petistas.
Por fim, chama a atenção que o
candidato a vice da chapa do tucano
José Serra seja Gilberto Kassab, do
PFL. O referido político fez parte da
equipe do ex-prefeito Celso Pitta e integrou a base de sustentação de Paulo Maluf na Câmara Municipal -nomes que Serra sempre criticou.
É verdade que as situações regionais têm suas especificidades e nem
sempre correspondem às nacionais.
É certo também que em política não
se vai longe sem aliados. É inegável,
no entanto, que as alianças em curso
na disputa paulistana reforçam a impressão corrente de que para alcançar seus objetivos a classe política
sempre se dispõe a sacrificar a coerência e a rasgar compromissos.
Diante desse quadro, é inevitável
que a credibilidade dos partidos políticos se desgaste ainda mais aos
olhos do eleitor. A cada eleição, essas
agremiações parecem empenhadas
em dar novos passos para que se indiferenciem na ausência de princípios, no pragmatismo desenfreado e
na busca do poder pelo poder.
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