São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2011 |
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VLADIMIR SAFATLE Para além dos partidos Costuma-se dizer que a democracia depende de partidos políticos fortes. No entanto talvez fosse mais correto dizer que ela depende da possibilidade de mobilizações populares para além dos partidos. É importante lembrar isso em um momento histórico como o nosso, onde a força transformadora da forma-partido se esgotou. Desde o início do ano, o mundo assistiu a uma sucessão impressionante de mobilizações populares. Tunísia, Egito, Israel, Chile, Espanha, Grécia, Síria, Bahrein, Reino Unido e, agora, os EUA -com as ocupações de Wall Street por "indignados". Raros foram os momentos históricos em que mobilizações ocorreram de forma tão global. Olhando mais calmamente para elas, notam-se dois importantes pontos em comum: a presença maciça de jovens e uma organização feita a despeito dos partidos. É bastante clara aqui a consciência de que a forma-partido, como a conhecemos, parece bloquear o campo do político e embotar a criatividade social exigida pelo confronto com novas situações. Os partidos não estão na vanguarda, mas a reboque dos processos. São os jovens que, sabiamente, sentem mais claramente essa realidade. Por isso, eles não parecem dispostos a se engajar em partidos que submetem a inventividade do político ao raciocínio estratégico do dia. Na verdade, eles estão à procura de outra forma de organização política. Muitas vezes, alternativas dessa natureza foram conjugadas no interior da lógica "mudar o mundo sem conquistar o poder". Bem, o que se pode dizer a respeito desse raciocínio é: os detentores do poder agradecem. Ao contrário, espera-se de novas formas de organização política que elas apresentem modelos mais eficientes de governo, que elas nos ensinem, inclusive, a avaliar de outra forma ideias como "eficiência". Ou seja, não se deve temer o poder. Há de se reconhecer a complexidade da equação: não aceitar o modelo de gestão do poder baseado na forma-partido sem cair em alguma forma de crença no espontaneísmo redentor da "vontade política". Pensando nisso, talvez vejamos em alguns anos o aparecimento de algo como agremiações eleitorais compostas por vários pequenos grupos políticos que se unem para disputar eleições e modificar, por dentro, a lógica restrita da democracia parlamentar. Modificação que permita a abertura da vida social para uma democracia com mais densidade de participação popular e com menos medo de uma soberania que se manifeste sem a necessidade de representações. Certo é que, no mundo inteiro, os partidos não encantam mais. VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna. Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: C'est la guerre Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES Vinicius Marques de Carvalho e Diogo Thomson de Andrade: Combate a cartéis na economia Índice | Comunicar Erros |
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