São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004 |
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Pelo controle do tabaco
JOSÉ GOMES TEMPORÃO
Exteriores no último dia 26. No entanto a engrenagem bilionária da indústria do tabaco no Brasil, ao que tudo indica, já começou a funcionar. Ao chegar ao Senado, segmentos que defendem os interesses da indústria conseguiram, com argumentos desenvolvimentistas tão falsos quanto as propagandas de cigarro, convencer aquela Casa a retirar o caráter de urgência do mesmo. O senador Sérgio Zambiasi (PTB), do Rio Grande do Sul, Estado que é um dos maiores produtores de fumo no mundo, solicitou uma audiência pública para atender, segundo ele, a solicitações dos fumicultores gaúchos. Eles querem saber detalhes sobre a convenção-quadro. Isso pode atrasar a votação em mais de um mês. É importante que se diga que os produtores de fumo no Brasil trabalham em pequenas lavouras e estão expostos à pesadíssima carga de agrotóxicos que são obrigados, pela indústria, a utilizar. O trabalho infantil na lavoura do fumo é uma rotina. As doenças, inclusive a intoxicação provocada pela folha do tabaco verde, são constantes. Mesmo assim, a convenção-quadro não pretende ditar normas para a redução do plantio, e sim criar alternativas economicamente viáveis para os fumicultores, o que está expresso em seu artigo 17. É um movimento que já existe no Rio Grande do Sul, e quem trocou a lavoura do fumo por outro tipo de produção está satisfeito. Mais: pesquisa feita pela Universidade de Santa Cruz do Sul demonstra que a maioria dos produtores anseia por uma atividade mais rentável e saudável. A convenção-quadro visa "proteger a população mundial e suas gerações futuras das devastadoras conseqüências do consumo de tabaco" e, dessa forma, tentar barrar uma projeção assustadora da OMS: se nada for feito, o número de fumantes subirá nos próximos 20 anos para 1,7 bilhão. Com isso, as mortes, ainda segundo a OMS, aumentarão em 100%, sendo que 70% delas ocorrerão em países pobres, onde estão concentrados 80% dos fumantes do mundo. Por isso é importante que todos procurem entender a quem interessa que o Brasil não faça parte da convenção-quadro. Seria ao povo brasileiro, ou a uma minoria que se beneficia da dependência e da morte precoce de milhões de pessoas e explora a mão-de-obra barata e a ingenuidade do elo mais frágil da cadeia produtiva, os fumicultores? Hoje nenhum governo pode mais fechar os olhos para a questão do tabaco, pois ela está presente, ultrapassando fronteiras, invadindo os espaços, sejam eles ricos ou pobres, captando jovens de todas as idades, crenças, religiões e níveis sociais e econômicos. O tabaco causa prejuízo para o Brasil; precisamos ratificar brevemente essa convenção, antes que interesses comerciais de uma minoria se sobreponham aos interesses da nossa nação. José Gomes Temporão, 52, médico, professor do Departamento de Administração e Planejamento de Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, é diretor-geral do Inca (Instituto Nacional de Câncer). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Horacio Lafer Piva: Novos tempos, novos desafios Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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