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AUMENTAR AS RESERVAS
O saldo de US$ 3,1 bilhões obtido pela balança comercial
brasileira em maio merece ser comemorado, sobretudo pela constatação
de que a tendência superavitária no
comércio exterior continua a se aprofundar a despeito dos sinais de que a
demanda interna se encontre em recuperação. Além dos indicadores relativos às vendas da indústria e do comércio no mercado doméstico, atesta essa recuperação a expansão das
importações, que nos primeiros cinco meses do ano, sobre igual período
de 2003, atingiu expressivos 19%.
No entanto, embora imprescindível para a redução da vulnerabilidade
das contas externas do país, o aumento do superávit comercial não
basta. Sintoma disso é a evolução do
risco Brasil, que reflete as avaliações
dos investidores acerca da capacidade do país de manter em dia seus pagamentos externos. Em janeiro, o
risco ficou na faixa de 430 pontos,
cerca de 50% acima da média do dos
demais países emergentes -excluída a Argentina, que ainda se encontra em moratória. Desde então, o risco Brasil subiu para o patamar de 700
pontos (fechou a 668 pontos na sexta-feira), passando a representar praticamente o dobro do risco médio
dos demais emergentes, que também se elevou, para 350 pontos.
Pode-se imputar essa mudança de
percepção sobretudo à evolução da
conjuntura das finanças internacionais. Com a crescente percepção de
que logo os juros dos EUA deverão
iniciar uma trajetória de alta, diminuiu o apetite dos investidores internacionais pelas aplicações mais rentáveis, porém mais arriscadas, em
economias emergentes. Nesse ambiente, os indicadores relativos às
contas externas passaram a ser lidos
com olhos mais rigorosos -e a avaliação sobre a situação do Brasil sofreu piora particularmente intensa.
De fato, embora venham apresentando melhora, os indicadores de
solvência externa do país ainda se encontram em posição desfavorável na
comparação com outras economias
emergentes. Dado o aumento das exportações e a lenta redução do estoque da dívida externa, o aspecto que
passa a sobressair como principal
calcanhar-de-aquiles na área externa
é o nível ainda muito baixo das reservas de divisas do Banco Central, hoje
em torno de US$ 22 bilhões. A título
de comparação, em dezembro de
2003, a China tinha US$ 409 bilhões
em reservas internacionais; Taiwan,
US$ 203 bilhões; Coréia do Sul, US$
143 bilhões; Índia, US$ 99,9 bilhões;
México, US$ 60,1 bilhões.
A aquisição e a manutenção de divisas tem certamente um custo, mas
ele seria recompensado pela redução
da vulnerabilidade externa da economia e também por mais estabilidade
na taxa de câmbio.
A autoridade monetária tem trabalhado nesse sentido, mas perdeu a
oportunidade de avançar quando os
fluxos de capitais internacionais
pressionavam para baixo a cotação
do dólar no Brasil. Desde fevereiro, o
BC interrompeu a compra de divisas
internacionais. É fundamental que
volte a fazê-lo mesmo que de forma
gradual. É uma prioridade que não
pode continuar a ser adiada.
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