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Editoriais
Menos pobres
Surgimento de "nova classe média" põe em foco desafios e prioridades antes relegados a segundo plano no país
AS RECENTES estatísticas
sobre a redução das
disparidades de renda
no Brasil representam
uma excelente novidade e respondem a uma série de medidas
corretas tomadas na gestão econômica desde o Plano Real.
Pela primeira vez, a classe média passa a ser maioria no país,
conforme estimativas da Fundação Getúlio Vargas. As famílias
com renda mensal entre R$
1.064 e R$ 4.591 correspondem
hoje a 51,9% da população, confirmando tendência de crescimento que remonta a 2004.
Também são impactantes os
números do Ipea que apontam
diminuição na porcentagem de
pobres nas seis principais regiões metropolitanas. Em 2003,
32,2% da população tinha renda
familiar inferior a meio salário
mínimo. Com a retomada do
crescimento, o índice voltou a
cair, recuperou o patamar obtido
em meados da década passada
com a estabilização da moeda,
chegou a 23,5% em 2006 e, tudo
indica, continuou em queda.
Ainda que bem menores do
que os verificados em países como a China, e ainda que expostos
às variações do cenário internacional, os índices de crescimento
da economia brasileira autorizam uma sensação de otimismo
que, desde a década de 1980, estava ausente da maioria das avaliações a respeito do futuro.
Alguns comentários entretanto podem ser feitos, não para arrefecer um clima de confiança
recuperado a duras penas, mas
sim no sentido de apontar desafios e prioridades que se colocam, uma vez confirmadas as
tendências da estatística.
Em primeiro lugar, avanços na
mobilidade social não mais se fazem por meio da fórmula que
marcou a história brasileira no
passado: um processo maciço de
urbanização e o papel direto do
Estado na industrialização.
A mera migração para a cidade
grande já constituía ascensão social para quem mal sobrevivia
nas zonas agrárias miseráveis. A
indústria teve, no século 20, um
papel de geração de empregos
que, mais e mais, hoje é representado pelo setor de serviços. O
protecionismo estatal e os postos de trabalho que abria hoje
dão lugar a um ambiente muito
mais competitivo e a um espírito
empresarial mais aguerrido do
que o classicamente associado às
camadas médias tradicionais.
O pólo dinâmico representado
pela "nova classe média" da sociedade coloca em destaque, hoje, demandas diferentes para todo o sistema.
A desigualdade social, mais do
que nunca, não é um problema
idêntico ao da desigualdade de
renda. Disparidades no acesso à
educação, à cultura, aos serviços
urbanos e à qualidade de vida se
tornam fatores relevantes na
persistência de divisões profundas na sociedade brasileira e ainda dificultam a formação de uma
cultura de cidadania e identidade democrática vigorosa no país.
O desafio continua; parece mais
possível, felizmente, enfrentá-lo
a partir de agora.
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