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SÉRGIO MALBERGIER
O que Lula fez e o que não fará
A ADESÃO , mesmo que tardia,
do presidente Lula ao consenso econômico liberal
destravou empresários brasileiros
e investidores estrangeiros num
momento da conjuntura global extremamente favorável ao Brasil.
Os resultados são incontestáveis.
A renda média e o emprego formal
crescem há anos, a indústria bate
recordes de produção e faturamento, as empresas lucram como nunca, a vital concessão de crédito se
expande e se alonga, a corrente de
comércio do país com o mundo,
apesar e por causa do real valorizado, atinge picos jamais vistos, o PIB
é puxado por investimentos, sinal
de confiança no futuro.
O mercado interno finalmente
se avoluma, assim como as reservas internacionais, dois colchões
fundamentais para a segurança
econômica. Milhões de pobres ascendem socialmente enquanto o
número de milionários explode,
prova de que as classes não competem entre si pelas riquezas do país,
mas enriquecem juntas.
A principal explicação para os
superlativos econômicos é simples: estabilidade. São já 15 anos de
adesão às regras mais básicas do
capitalismo, com o mínimo de contenção fiscal assegurado em lei e o
respeito a regras do mercado garantidas hoje pelo líder inconteste
da esquerda brasileira, o que barrou no país o populismo esquerdista que afunda os vizinhos argentinos, venezuelanos e bolivianos.
Pai dos pobres, mãe dos ricos,
Lula é até aqui a ponte possível entre os extremos do Brasil. Sua instintiva insistência em aumentos vigorosos do salário mínimo e dos
programas assistenciais contribuiu para reduzir desigualdades e
fortalecer o mercado nacional.
Mas, se sua liderança foi importante para a evolução econômica,
sua condução da grande política
(aquela acima da disputa partidário-eleitoral) é um fracasso desolador. Seu silêncio sobre a corrupção
e o assalto ao Estado orquestrados
por máfias historicamente embutidas nos Três Poderes reforça a impunidade geral que as operações da
Polícia Federal, por mais espetaculares que sejam, só arranham.
Os escândalos chegam assustadoramente perto do Planalto. Ministros de primeira grandeza caíram sob suspeitas gravíssimas. Não
é criação de Lula nem do PT a corrupção geral e irrestrita, com origens tão antigas quanto nossas raízes ibéricas. O padrão do PT parece
o mesmo de espúrias coalizões políticas anteriores, costuradas sob o
falso pretexto da governabilidade,
quando são guiadas apenas por fisiologismo e corrupção.
Lula seria maior que Lula se, do
alto de sua aprovação popular e das
conquistas econômicas, enfrentasse a praga corruptora que nos sufoca e nos atrasa. Mas ele é parte desse sistema político tosco e imaturo
que jamais se auto-reformará.
Contra ele, Lula nada fará.
SÉRGIO MALBERGIER é editor de Dinheiro . Hoje,
excepcionalmente, não é publicado o artigo
de Kenneth Maxwell.
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