|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARINA SILVA
Jeito de caminhar
A PROXIMIDADE do Sete de
Setembro, celebrado ontem,
me fez pensar ainda mais
em um assunto muito importante,
que não sai da ordem do dia das
nossas discussões, mas nunca se
impõe concretamente na agenda
do país. É o tema da reforma política, considerada por muitos a mãe
de todas as grandes reformas, que
volta à pauta para o seu teste decisivo de realidade. Mas nós políticos
nos enganaríamos se pensássemos
que essa discussão pode ser resolvida apenas dentro dos rituais de
nossa cultura.
Enquanto estive à frente do Ministério do Meio Ambiente, aprendi várias lições. Uma delas, provavelmente das mais importantes, foi
entender que já não vivemos o momento de fazer para a sociedade.
Temos, sim, que fazer com ela.
Aliás, é só olharmos para esses 186
anos de país independente para
vermos como a sociedade sempre
esteve presente, com mais ou menos força, na luta para a construção
de uma nação cada vez mais democrática.
No debate atual, só uma ampla e
consistente participação da sociedade nos dará "régua e compasso"
para efetivarmos a reforma política
do tamanho que deve ser, com a
ousadia que deve ter.
A sociedade está disposta a entrar no debate para valer. Exemplo
disso é a "Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do
Sistema Político", que tem à frente,
hoje, mais de 20 redes e já avançou
no desenho de uma reforma não
apenas do sistema eleitoral, mas
também dos processos de decisão.
Outras entidades representativas também têm participado do debate, como OAB e a Transparência
Brasil. Muitos seminários vêm
sendo realizados, opiniões qualificadas são divulgadas em artigos
publicados pela imprensa, só para
citar mais alguns movimentos.
Diante disso, cabe indagar qual a
possibilidade de o Congresso organizar um amplo processo de discussão sobre a reforma política, algo que se assemelhasse a uma Conferência Nacional. Experiência para isso existe. Nestes últimos cinco
anos foram realizadas mais de 30
conferências sobre os mais diversos temas, inclusive as conferências nacionais de meio ambiente.
Todas contribuíram significativamente para o aperfeiçoamento das
políticas públicas do país.
Reunir essas colaborações seria
um sinal inequívoco de que o Congresso não pretende apenas produzir uma reforma política para a sociedade, mas tê-la como parceira
para a elaboração de propostas
com as quais possa comprometer-se. Parafraseando o poeta Thiago
de Melo, mais do que um caminho
novo, é preciso um novo jeito de caminhar.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: O pinto do Manequinho Próximo Texto: Frases
Índice
|