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CARLOS HEITOR CONY
A renda e a banana
RIO DE JANEIRO - Durante os 21 anos de regime militar, era comum ouvirmos a advertência de que eleição atrapalhava a vida do país. Que diabo, estava tudo bem, o país em ordem, crescendo em taxas nunca vistas, o milagre brasileiro em toda a sua glória.
E vinham uns subversivos, uns maus
patriotas, uns vendidos ao ouro de
Moscou e de Havana falar em eleições
livres, em consulta ao povo. Para quê,
se tudo estava bem?
Com outras palavras, mas com o
mesmo sentido, o presidente do Banco
Central e o governo como um todo repetem a mesma lengalenga. As turbulências do mercado, que ameaçam jogar o Brasil no mesmo poço sem fundo
da Argentina, são devidas às eleições
marcadas para outubro. E, principalmente, à suspeita de que o atual conjunto de forças no poder seja alterado
por um grupo que não inspira confiança ao FMI e ao Consenso de Washington.
De duas uma: ou cancelamos as eleições, de forma a continuar inspirando
confiança ""lá fora", ou damos um jeito de nenhum partido de oposição
chegar ao poder. Caso contrário, o melhor mesmo é sair de baixo.
Não adianta Lula jurar pelas barbas
do profeta ou pelas próprias barbas
que vai respeitar o jogo, que não bagunçará o coreto montado para animar a grande festa do neoliberalismo.
Nesse particular, o Banco Central
exerce realmente uma função centralizadora, pois exprime a inquietude
do capital estrangeiro e o pânico dos
empresários nacionais, que, em linhas
gerais, temem qualquer alteração na
regra que predominou nestes últimos
oito anos de FHC.
A concentração de renda não envergonha a ninguém, pelo contrário, é
motivo de glória. Se um banco pode
ganhar 3.000 por cento num exercício,
por que baixar esse índice colossal para os 12% ou mesmo 24%? Onde está a
lógica desta operação macabra que
apunhala o capital?
O Banco Central está aí para isso
mesmo, para centralizar a renda na
mão dos capazes e dar uma banana
para o resto.
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