São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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Editoriais

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Expectativa cósmica

TUDO NO LHC (Grande Colisor de Hádrons) é superlativo, inclusive as expectativas. Maior e mais caro instrumento científico já construído, o colisor de partículas subatômicas foi instalado num túnel circular subterrâneo de 27 km, 100 m abaixo da fronteira franco-suíça, custou ao menos US$ 5 bilhões, levou duas décadas para ser concluído e mobilizou 10 mil pesquisadores de 80 países.
A enormidade do LHC se justifica com uma promessa à altura: desvendar os maiores mistérios na origem do universo. Não há quase enigma físico que o colisor não se proponha resolver.
Os hádrons que dão nome ao aparelho constituem uma classe de partículas fundamentais que inclui nêutrons e prótons, habitantes do núcleo atômico. O LHC fará prótons colidirem em velocidade próxima à da luz.
Chocar partículas maciças a tal velocidade busca reproduzir condições comparáveis às que vigoravam trilionésimos de trilionésimos de segundo após o Big Bang. Naquele ponto, há uns 14 bilhões de anos, o universo era menor que o Sistema Solar e nele predominavam as partículas mais elementares da matéria, como os quarks, que depois constituíram os prótons e nêutrons.
Com o LHC pretende-se obter o oposto, pois se trata de destruir partículas para vislumbrar seus componentes. Todas as integrantes do chamado modelo padrão já foram detectadas, com exceção do bóson de Higgs. A entidade prevista em 1964 pelo britânico Peter Higgs permitiria explicar a existência de massa nalgumas partículas e não em outras. É a maior lacuna do modelo.
Espera-se muito mais do LHC, contudo. Sua alta energia poderia produzir miniburacos negros, lançando luz sobre a existência das dimensões extras propostas na controvertida teoria das supercordas. Aguardam-se pistas, ainda, sobre aqueles 96% invisíveis do universo ocultos na matéria e na energia escuras. Talvez, a razão de não haver mais antimatéria no cosmo, se na sua criação ela foi tão abundante quanto a matéria, como reza a teoria.
Outra perspectiva estimulante é que o LHC produza resultados de todo imprevistos, impondo uma revisão do modelo atual. Assim avança a ciência. Certo, mesmo, é que ela dificilmente permanecerá a mesma, depois de alguns meses ou anos, quando estiver a todo vapor a bilionária máquina de testar hipóteses.


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