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SEM PRECIPITAÇÃO
A recuperação da atividade
econômica prossegue no Brasil
e já há algum tempo não se pode atribuir exclusivamente às exportações o
dinamismo da produção. O mercado
interno, que tanto se contraiu no ano
passado, também passa por uma reativação. Em paralelo, os índices de inflação revelam um quadro de relativa
pressão, em especial sobre os preços
da indústria no atacado. Mas os aumentos já chegam ao consumidor:
em agosto, o IPCA, índice oficial que
baliza as metas de inflação, teve alta
novamente um pouco maior do que
antecipavam os analistas. Assim, as
taxas de inflação projetadas por bancos e consultorias para este ano e o
próximo estão se movendo lentamente para cima, de acordo com a
compilação do Banco Central.
Embora essas projeções ainda indiquem ser provável o cumprimento
das metas para a inflação dentro das
margens de tolerância, o BC já deixou
claro que poderá atuar para impedir
que as expectativas acerca da inflação
continuem a se deteriorar.
Está formado, assim, um quadro
propício para que aumentos da taxa
de juros sejam defendidos por alguns
analistas. Até mesmo membros da
cúpula do governo, como os ministros da Casa Civil e do Planejamento,
já declararam que admitem a hipótese de elevação de juros, avaliando como pouco significativo os impactos
da medida sobre o desempenho da
atividade produtiva.
À primeira vista, o quadro poderia
justificar um aumento da taxa básica:
pretensamente, a economia estaria
excessivamente aquecida, e a inflação, escapando ao controle. Há, porém, perigos nessa avaliação.
É preciso levar em conta vários elementos, a começar do nível atual da
taxa de juros básica, excessivamente
alto. Um dos elementos que contribuem para tanto é o fato de ter sido
estabelecida uma meta por demais
ambiciosa de redução da inflação em
2004. A inflação de 2003 foi de 9,3%.
Levando em conta que tarifas como
as de energia elétrica e de telefonia,
responsáveis por quase 30% do índice oficial, têm reajustes indexados ao
comportamento da inflação do ano
anterior, reduzir o aumento de preços a 5,5% em 2004 demandaria conter de modo abrupto o ritmo de alta
dos preços dos demais itens. Isso seria difícil em qualquer circunstância,
mais ainda quando se sabe que ocorreu um choque de custos derivado
das cotações das commodities, como
metais e petróleo.
Outro elemento a considerar é a necessidade de preservar a incipiente recuperação do investimento. Como
ele se tem mantido baixo há duas décadas, uma retomada mais firme tornou-se vital para evitar o agravamento de gargalos de oferta.
As iniciativas, portanto, com impacto adverso sobre a recuperação do
investimento são indesejáveis. Por
mais torneios retóricos que se façam,
um aumento de juros é reconhecidamente um fator adverso. Melhor seria
evitá-lo, até porque é cedo para afirmar que há grande risco de efetivo
descumprimento das meta de inflação considerando-se as margens de
tolerância.
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