|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Brasil: um PIB vergonhoso
Os dados trazidos pelo IBGE sobre o avanço do PIB no primeiro
trimestre de 2004 são animadores,
mas longe do que o Brasil pode e necessita produzir. É preciso considerar
que a base de comparação utilizada é
das mais precárias, pois o ano de 2003
foi marcado por um recuo do PIB brasileiro da ordem de -0,2%. Por sua vez,
o avanço do PIB nos países mais desenvolvidos, e até mesmo nos países
de igual ou pior desenvolvimento do
que o Brasil, foi superior ao nosso.
Em 2003, tivemos um PIB de R$
1,515 trilhão, o que corresponde a
aproximadamente US$ 493 bilhões
usando-se um valor do dólar médio
no ano de R$ 3,07.
Já foi o tempo em que nos vangloriávamos de ser a sétima ou a oitava economia do mundo. Com o fraco desempenho de 2003, o Brasil caiu da 12ª
para a 15ª posição no ranking mundial. E, em termos do PIB per capita,
ocupamos o 78º lugar.
Em 2003, a renda per capita dos brasileiros -marcada por sua terrível e
conhecida má distribuição- foi de
apenas US$ 2.789. A Jamaica teve desempenho melhor, com uma renda
per capita de US$ 2.962. A Argentina,
que foi destroçada por sucessivas crises financeiras e finalmente pela aventura da moratória, tem renda per capita de US$ 3.322.
É um absurdo que, com tanta riqueza espalhada em um grande continente, o Brasil gere menos de 1% do PIB
mundial e, em termos de renda per capita, fique atrás de países como o Líbano, o Panamá, a República Dominicana e Barbados!
Se formos nos comparar com os países ricos, então as diferenças são brutais. Enquanto um brasileiro tem uma
renda per capita de US$ 2.789, um
americano tem de US$ 37.312!
A nossa caminhada é longa. E será
penosa. Afinal, ficamos patinando nas
últimas três décadas e, com isso, recuando no ranking mundial.
Felizmente, a lavoura continua sendo a salvação nacional. Só entre 2002 e
2003, o PIB da agropecuária avançou
20%. A participação relativa da indústria e dos serviços caiu 1% e 2%, respectivamente, e a demanda das famílias despencou 3,3%! Não fosse a agropecuária, estaríamos pior.
Ou seja, os dados positivos do primeiro trimestre de 2004 estão sendo
comparados com uma situação muito
precária, tanto do ponto de vista interno como externo. O fato concreto é
que, em 2003, o Brasil encolheu seu
PIB, derrubou a renda e estrangulou o
consumo.
Daqui para a frente, o sucesso na caminhada vai depender de medidas corajosas. Não é possível continuarmos
com juros estratosféricos e impostos
intoleráveis. Não é viável assistir impunemente à explosão da informalidade.
Na informalidade, as pessoas ficam
desprotegidas, e a concorrência torna-se desleal. Não seria melhor fazer um
esforço para baixar os juros e os impostos em troca da incorporação de
mais pagadores? Essa é a proposta que
todos fazem, mas que até hoje nenhum governo se dispôs a realizar. Para eles, no final do ano, foi sempre
mais fácil aumentar os impostos e elevar os juros. Precisamos reverter essa
tendência.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Problema recorrente Próximo Texto: Frases
Índice
|