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REFORMAS PETISTAS
Em encontro com a imprensa,
realizado na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou de temas variados. O Planalto
ainda não havia sido atingido pelos
efeitos das revelações de que o subchefe de Assuntos Parlamentares da
Casa Civil, Waldomiro Diniz, esteve
envolvido em graves irregularidades
-e o presidente conversou com os
jornalistas trazendo à tona temas relativamente delicados. Dois deles
chamaram especialmente a atenção:
as reformas política e trabalhista.
No primeiro caso, o aspecto mais
polêmico foi a visão do presidente de
que o "caminho natural" do Brasil é
o bipartidarismo. Num sistema semelhante ao que vige em países como a Alemanha e Reino Unido, Lula
imagina duas grandes forças majoritárias revezando-se no poder em
alianças com legendas menores. Em
sua opinião, um quadro como esse
tenderia a reduzir o fisiologismo estimulado pelo regime atual, no qual a
formação de alianças exige um interminável processo de concessões e
troca de favores. Nesse futuro cenário, o petismo, na opinião do presidente, poderia reunir-se num mesmo partido com o PSDB.
Essas avaliações demonstram a inclinação do PT de tentar liderar uma
área de centro-esquerda na política
brasileira, procurando recosturar,
em parte, a antiga frente da época da
redemocratização. O fato de que o
atual governo venha dando continuidade a políticas formuladas pela gestão anterior não deixa dúvidas de que
do ponto de vista das orientações
ideológicas, o novo PT está extremamente próximo ao PSDB.
A afastá-los, está a história recente.
Durante oito anos, o petismo, na
oposição, confrontou-se com a administração Fernando Henrique
Cardoso, recorrendo, para isso, a toda sorte de "bravatas", como o próprio presidente Lula admitiu.
Se hoje o principal líder do PT estima que estará futuramente na mesma agremiação de seu ex-adversário,
não é de espantar que tenha assumido na questão da reforma trabalhista
-o outro tema polêmico a que se
dedicou no jantar de quarta- posições anteriormente execradas pelo
PT. Com efeito, resguardar apenas o
direito de férias como algo fora da
mesa de negociações numa reformulação da CLT é o tipo de declaração
que poucos acreditariam ter partido
de Lula. É conhecida a lógica pela
qual líderes egressos da esquerda fazem as reformas que os conservadores não conseguem implementar. É
o que vai ocorrendo na atual gestão.
Não que a legislação trabalhista em
vigor não mereça aperfeiçoamentos.
Antiquada, ela está a pedir atualização -o que não deveria ser confundido, muito menos por alguém com
o perfil de Lula, com a supressão de
direitos históricos de trabalhadores.
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