São Paulo, quarta-feira, 15 de abril de 2009

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RUY CASTRO

Reflexos da crise

RIO DE JANEIRO - Nesta semana, no norte da França, um homem de 65 anos abriu fogo a esmo numa rua cheia de gente, matou dois garotos de 20 e feriu um terceiro. Em Abéché, no Chade, na semana passada, um membro da Legião Estrangeira -por acaso, brasileiro, de Santo André (SP)- fuzilou quatro de uma vez: dois colegas legionários, um militar do Togo e um camponês chadiano.
Também na semana passada, um jovem de 17 anos matou 15 pessoas num colégio em Winnenden, na Alemanha, e depois morreu em confronto com a polícia. Em Atenas, na Grécia, outro menino, 18 anos, disparou no colégio contra um rapaz pouco mais velho, ferindo-o, e alvejou dois operários que estavam por perto, ferindo-os também. Em seguida, matou-se.
Pelos mesmos dias, um atirador de 45 anos matou um homem e feriu outros três numa cafeteria em Roterdã, na Holanda. Tudo isso na Europa. Nos EUA, casos do tipo são comuns e abundaram nas últimas semanas -um deles, o dos dois homens armados que invadiram uma casa perto de Nova Orleans, mataram duas crianças e uma adolescente e feriram outra menina.
A quantidade de pessoas cometendo homicídios em massa tem sido de assustar. Os estudiosos sugerem que seja um reflexo da crise econômica: o fulano se vê com o seu presente ou futuro ameaçado, acha que a vida perdeu o sentido e, afobado, desconta em quem não tem nada a ver -dizem eles.
No Brasil dos anos 70 e 80, sob a ditadura, vivíamos em crise política, econômica e social. Era crônico e de amargar. Mas, confirmando nossa "índole pacífica", ninguém saía disparando contra inocentes pela rua. Ao contrário. Pelo que os psicanalistas contavam, o que a crise mais provocava no Brasil eram impotência e ejaculação precoce. Ou seja, ninguém fuzilava ninguém. Ou fuzilava depressa demais.


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