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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O cinismo do Primeiro Mundo
A imprensa brasileira deu pouca
ênfase ao significado da proposta
do Brasil na Cúpula do Desenvolvimento Sustentado, realizada em Johannesburgo há poucas semanas.
O Brasil quis obter um compromisso dos demais países para que todos
os esforços fossem dirigidos em favor
da utilização de, pelo menos, 10% de
energia renovável -hídrica, eólica,
solar etc.-, que poluem pouco.
Apesar de todo o empenho da representação brasileira e da presença do
próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, que negociou pessoalmente com os demais mandatários do
planeta, a proposta foi rejeitada.
No meu entender, essa aparente derrota foi uma estrondosa vitória. Sim,
porque, mesmo excluindo a energia
produzida por álcool e bagaço de cana, o Brasil possui 50% de energia renovável. Vejam bem, os demais países
não quiseram aceitar 10%!
E por que a derrota é vitória? Porque, com isso, caiu a máscara dos que
ficam acusando o Brasil de grande poluidor do mundo. É uma interminável
procissão de ONGs, de lobbistas de toda a espécie e até mesmo de representantes oficiais dos países avançados,
que vivem atirando pedras no Brasil
como se este fosse um país, como o
deles, que, para gerar energia, contamina o ar, a terra e as águas.
Com a proposta derrotada, deixamos os reis nus. Daqui para frente, para os que vierem nos atormentar com
acusações infundadas, temos uma
pergunta na ponta da língua: por que
o seu país não aceitou a idéia de usar
10% de energia renovável?
Responda isso primeiro para depois
continuarmos a conversa. Do contrário, guarde as suas pedras e volte para
o seu poluído terreno nacional. Atualmente, cerca de 85% da energia do
mundo é de origem fóssil, altamente
poluente.
A participação dos Estados Unidos
na geração de gás carbônico no total
mundial aumentou de 9,1% para
18,1% nos últimos dez anos. Isso é
uma enormidade quando se compara
com a participação brasileira, que é de
apenas 0,41%.
Espero que o leitor entenda exatamente o que aconteceu em Johannesburgo: foi o exercício do cinismo dos
países ricos em relação aos países pobres.
Esse é um motivo para ficarmos ainda mais orgulhosos de nosso país.
Além da imensidão territorial, Deus
nos presenteou com muitos fatores favoráveis para transformarmos esta
terra em uma grande nação: fertilidade do solo, abundância de água, sol o
ano inteiro, bom regime climático e,
sobretudo, extensas fontes de energia
renovável.
Incluindo a biomassa, 60% da nossa
energia vem de fontes renováveis, enquanto os países que assinaram o Protocolo de Kyoto prometeram reduzir
a poluição em 12% até 2010. Será que
vão cumprir? É evidente que não. Basta ver o seu comportamento na reunião de Johannesburgo.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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