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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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PAINEL DO LEITOR

Estudar direito
"A comemoração do centenário do Centro Acadêmico XI de Agosto, que representa os acadêmicos de direito do largo São Francisco, é um acontecimento por demais importante. Como aluno do segundo ano da faculdade de direito da Universidade Católica de Santos, fico orgulhoso quando leio a história de estudantes e de professores que lutaram pela democracia e contra as ditaduras e que sofreram perseguições quando defenderam a cidadania e os direitos humanos. As personalidades acadêmicas, os representantes de tantos segmentos sociais que compareceram à solenidade comemorativa, certamente sentiram uma grande emoção. Sou estudante de uma faculdade particular e fiquei abismado com a atitude de um aluno do primeiro ano das "Arcadas" que ultrapassou os limites com a agressão à prefeita de São Paulo. Por certo, o gesto grotesco, com o claro objetivo de aparecer, é um fato isolado. E todos quantos lutam por uma sociedade mais justa e mais fraterna condenam o gesto tresloucado de um estudante que terá nos próximos quatro anos a oportunidade de aprender o significado de estudar direito. Em todos os sentidos."
Pedro Leonardo Villas Boas (Santos, SP)

Reforma
"A reforma tributária é algo que tem de ser realizado com muito critério e com enorme cuidado. Evidentemente que, diante do Congresso que aí está, que vota por pressão e por medo (PT) ou por fisiologismo (cargos), o Brasil corre o risco de ter uma reforma, no mínimo, incompleta, ineficiente e que, na realidade, não trará benefícios à nação e à população. Segundo estudos e análises divulgadas por técnicos, políticos e empresários sérios e competentes, ao contrário do desejado, essa reforma poderá elevar a carga tributária para mais de 42% do PIB. Será bem melhor parar por aí, respirar fundo e começar tudo de novo antes que um prejuízo e um mal maior sejam estabelecidos -e as suas consequências deletérias demandem décadas para serem reparadas."
David Neto (São Paulo, SP)

Logo...
"A reforma tributária é sinônimo de aumento da carga de impostos para as empresas, que, consequentemente, repassarão seus custos ao consumidor final, gerando, assim, mais inflação, desemprego e lutas sociais. Então o governo tentará resolver o problema aumentando os impostos e repassando-os para a luta contra "a fome e a miséria", logo, as empresas repassarão seus custos para o consumidor final, gerando assim inflação, desemprego.....
Omar Souza Ahmed (São Paulo, SP)

Soja transgênica
"Os dois argumentos mais utilizados na defesa dos transgênicos são que esses cultivares são mais produtivos e requerem menor uso de defensivos agrícolas. A soja RR não é mais produtiva, ela apenas é resistente ao herbicida Roundup, fabricado pela própria Monsanto, o que, imediatamente, já invalida o segundo argumento. O plantio desse tipo de "material" no Brasil é muito bom para os Estados Unidos, que, desse modo, deixam de ter um competidor diferenciado no mercado mundial de soja - deixando esse mesmo mercado sem opção. O Brasil perde duplamente, pois, além de não mais poder ter o seu produto com preço diferenciado (e mais caro), ainda terá de pagar royalties à Monsanto pelo uso da soja transgênica. Aliás, esses direitos são, no mínimo, duvidosos, uma vez que a Monsanto utilizou livremente o germoplasma de soja da Embrapa para desenvolver a soja RR (Roundup Ready). O argumento de que o setor de agronegócios no Brasil está paralisado, utilizado pela juíza Selene Maria de Almeida para tentar liberar, a pedido da Monsanto, o plantio de soja transgênica, é de uma falsidade grosseira, pois, além de estarmos batendo recordes de produtividade, o Brasil se tornou o maior exportador de soja, ultrapassando os EUA -e com soja convencional. O segundo argumento de ilustre juíza, de que técnicas agrícolas que são empregadas nos EUA e na Inglaterra devem também ser empregadas no Brasil, é triste, pois se trata apenas de pura "xenolatria". Se tivéssemos feito o mesmo que os ingleses, nossa vaca também teria ficado louca. É lamentável que uma técnica que, segundo alguns, é tão boa, tenha de conviver com falsos argumentos."
Milton Krieger, engenheiro agrônomo (Piracicaba, SP)

Dublada e legendada
"O Brasil trocou monopólios estatais por monopólios privados. Nossas empresas de energia, propriedades de companhias do Primeiro Mundo, não têm investido para modernizar a rede, têm aumentado abusivamente os preços ao consumidor e, agora, começam a não pagar suas dívidas. O Primeiro Mundo dos sistemas energéticos privatizados apresenta blecautes que mostram que esses sistemas possuem redes obsoletas, de Terceiro Mundo. Aqui, no Brasil, e lá fora, se os governos não fizerem o povo pagar pela modernização, dando ainda mais lucros a essas empresas, ela, a modernização, não acontecerá. Será que nós, que tivemos o privilégio de assistir a duas versões -nacional e estrangeira- do mesmo filme, não aprendemos nada com isso?"
Rute Bevilaqua (São Paulo, SP)

Tempo, tempo
"Lembrei-me da máxima machadiana ao ler o artigo tão lúcido de José Sarney de 15/8 ("Ovos de galinha preta", Opinião, pág. A2): "matamos o tempo; o tempo nos enterra". Realmente paradoxal esse momento de nossas vidas, em que a ciência nos permite viver mais e nós vivemos cada vez menos. Paradoxal e angustiante. Renovamos o modelo de nosso telefone celular, mas não nos sobra tempo para conversarmos. Trocamos nossos laptops e esquecemos o convívio humano. Trocamos a leitura dos livros à nossa disposição nas empoeiradas bibliotecas pelas céleres análises das obras na internet ou simplesmente substituímos os clássicos por adaptações facilitadas dos mesmos. Preferimos alimentos light em forma de pó ou de pílulas às temíveis iguarias prejudiciais à nossa saúde. O elenco de nossas permutas é enorme. Temos pressa e tornamo-nos robotizados e preguiçosos para refletir, pois tudo cai em nosso colo de maneira simplificada, ágil e atrativa. Machado de Assis tinha razão: estamos enterrando o melhor de nós mesmos um pouco por dia. Resta-nos o consolo de que, pelo menos, estamos em dia com os avanços do mundo globalizado."
Maria Teresa Hellmeister Fornaciari (São Paulo, SP)


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