São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Ministério Público, ética e oportunismo
LUIZ ANTONIO GUIMARÃES MARREY
Presta um grande desserviço à causa republicana e democrática quem possa deixar dúvidas quanto a seus métodos e sua motivação. É preciso lembrar que há aproximadamente meio século, César Salgado, uma das maiores figuras do Ministério Público brasileiro, no seu "Decálogo do Promotor de Justiça", já manifestava preocupação com o tema da ética, recomendando aos membros do Ministério Público que não maculassem suas ações com emprego de meios eticamente condenáveis. Por outro lado, o episódio referido transformou-se em ótimo pretexto para aqueles que não querem ser incomodados pelo Ministério Público. A chamada "Lei da Mordaça" não está na agenda do governo -anuncia-se-, mas em nenhum momento se garante que o governo seja contra tal idéia. O ideal de parcelas importantes do poder político e econômico é um Ministério Público dócil para os poderosos e feroz com os humildes. Quando se trata de investigação criminal realizada pelo Ministério Público, alguns mal conseguem esconder que preferem eventuais mazelas dos porões de um inquérito policial a terem de deparar com uma investigação feita por promotores de Justiça. Outros têm grande dificuldade de conviver com mecanismos constitucionais de fiscalização e, na sua arrogância, acham que, umas vez eleitos, não precisam prestar contas da regularidade de suas administrações, como se o poder se legitimasse apenas pela investidura, e não também pelo exercício. Muitos sonham com a irresponsabilidade pelos seus atos, típica das monarquias absolutistas. O país precisa que suas instituições republicanas funcionem e cumpram de forma efetiva o seu papel. Querer transformar um episódio isolado num grande fato político que ameace a integridade da instituição do Ministério Público é agir com inequívoco oportunismo e produzir uma cortina de fumaça destinada a impedir que se veja a luz que limpa e desinfeta os ambientes patológicos. Luiz Antonio Guimarães Marrey, 48, é procurador de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo. Foi procurador-geral de Justiça por três mandatos (1996-98, 1998-2000 e 2002-04) e presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça (1997). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Joaquim Falcão: Repercussão geral Índice |
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