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KENNETH MAXWELL
Complexidade
UM DOS GIGANTES do jornalismo dos Estados Unidos,
Tim Russert, morreu inesperadamente na semana passada,
de um ataque cardíaco, aos 58 anos.
Russert era o chefe da sucursal
da NBC News em Washington e, o
que é mais importante, o apresentador do mais influente dos programas dominicais de entrevistas matutinas, o "Meet the Press", no qual
ele interrogava os grandes e os poderosos com obstinada graça e meticulosa persistência.
Duvido bastante de que Tim
Russert fosse muito conhecido no
Brasil. Ele era um fenômeno muito
americano; orgulhoso de suas raízes na combativa Buffalo, uma velha cidade industrial do Estado de
Nova York; orgulhoso de suas origens católicas e proletárias; e equipado com os afinados instintos de
um político democrata de rua.
Russert começou a carreira trabalhando para o lendário senador
Daniel Patrick Moynihan, de Nova
York, outro americano de ascendência irlandesa de inteligência
formidável e pés sempre no chão. O
senador Moynihan, sociólogo que
lecionou em Harvard, era uma figura poderosa e excêntrica em
Washington. Alto e mal-ajambrado, e evidentemente apreciador de
uísque, ele aterrorizava os burocratas convocados a depor diante
de seu comitê no Senado. Ainda
que parecesse estar dormindo, ele
se aprumava repentinamente, lançava um olhar atento na direção do
depoente e exigia uma "complexização". A palavra não existe, claro:
o que senador estava exigindo
eram fatos em lugar de afirmações
simplistas.
A morte inesperada de Tim Russert me fez pensar no senador
Moynihan, um "intelectual público" que ganhou fama ao contestar
as opiniões dominantes entre a esquerda liberal. Na metade dos anos
60, Moynihan argumentou que um
dos grandes problemas dos negros
norte-americanos era a ausência
dos pais nas famílias negras. A esquerda o vilificou por "culpar a vítima". Mas, no domingo passado,
Dia dos Pais nos Estados Unidos,
em uma das maiores igrejas negras
de Chicago, o senador Barack Obama disse a mesma coisa: "Precisamos que os pais compreendam que
suas responsabilidades não se esgotam quando da concepção".
O senador Barack Obama sabe
disso. Seu pai abandonou a família
quando ele ainda era menino. Mas
se trata de um tópico bastante sensível para que o trate de maneira
direta, quando e como o fez; e leva a
pensar que, caso Barack Obama se
torne presidente dos Estados Unidos, ele será, como Moynihan, um
líder que exigirá que reconheçamos não existir soluções simples
para a complexidade do mundo.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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