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CARLOS HEITOR CONY
Programa eleitoral
RIO DE JANEIRO - Começou o
horário político gratuito no rádio e
na televisão -o tradicional desfile
de caras e bocas, com algumas
idéias no meio, na necessária função de esclarecer o eleitorado.
O clichê obriga todo mundo a detestar o programa e, de cambulhada, os candidatos que nele se
apresentam.
Mais uma vez, e seguindo o indesejável DNA que me formou, remo
contra a maré. Gosto do programa e
aprecio todos os cidadãos de ambos
os sexos que dão o seu recado, falam
de suas vidas e realizações, prometem o que é possível prometer e até
um pouco mais, de acordo com a
garra de cada um.
O pouco tempo e a lengalenga do
conteúdo revelam-se contraproducentes, irritando o espectador que
potencialmente é também um eleitor. Mesmo assim, tivemos o caso
do Enéas, que dispunha de alguns
segundos para dar o seu recado e
mal tinha tempo para declarar que
o nome dele era Enéas. Com a barba
nazarena, a calva e os óculos fundo
de garrafa, conseguiu se eleger e
eleger alguns companheiros de seu
fantasmagórico partido.
Digo e repito que aprecio o desfile
eleitoral, não para me aperfeiçoar
civicamente, mas para me distrair.
A programação das TVs, em geral,
são também de lascar e, além do
mais, repetitivas. Os chamados
shows de realidade, tipo "Big Brother", são excessivamente produzidos para dar audiência. No caso dos
candidatos, a finalidade é dar votos
-o que é problemático.
Lembro um candidato a vereador
aqui no Rio que chegou a ser cassado não do mandato que não obteve,
mas do direito de continuar candidato. Ele prometeu que, eleito, providenciaria uma bomba atômica
para acabar com a poluição e os engarrafamentos do tráfego, destruindo a cidade para nela criar outra. Respeitaria apenas o Pão de
Açúcar e o Corcovado.
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